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10 arquétipos de vilões para você usar em suas histórias

Uma boa história começa com o desenvolvimento de um bom vilão. Não importa se você irá escrever um livro, um roteiro ou sua campanha de RPG. São os vilões que farão os seus personagens se movimentarem, criando um objetivo externo para suas realizações (e evolução).

Para começar essa conversa você precisa entender duas coisas que irão enriquecer a sua mente na hora de criar histórias. Está pronto? O que são arquétipos e os potenciais vilões de uma história. Aí juntamos tudo nos 10 arquétipos de vilões, ok?

Rei Negro por Nino Is.

O que são Arquétipos?

Eu não irei entrar com profundidade na teoria Jungiana (pelo menos não nesse post), mas é importante que você saiba que os arquétipos são imagens, símbolos, signos e conceitos que Jung captou com mesmos significados em diversas culturas, sonhos e respostas de pacientes. Seu metódico processo conseguiu catalogar e ele percebeu essa congruência. Assim, conforme a humanidade evolui, informações são adicionadas ao inconsciente coletivo.

Portanto um tigre será sempre um tigre em qualquer lugar do mundo, em qualquer percepção humana ou animal. Um elefante, uma coruja, uma flor, uma caneca, o símbolo do cifrão, o fluxo do rio e qualquer outro elemento possui o mesmo significado em todas as culturas. O que pode mudar é o uso e a interpretação pessoal de cada pessoa ou grupo de pessoas.

Complexo e profundo.

O que você precisa saber é que: quando utilizamos os arquétipos corretos, temos mais chances de traduzir na mente das pessoas um vínculo com o personagem. Além disso, é provado que quando uma história possui arquétipos de herói e vilão bem definidos, temos um maior engajamento dos leitores, espectadores e, no nosso caso, jogadores.

Potenciais vilões para sua história

A gente aborda bastante o conceito de vilão no módulo Criando um vilão que jogadores amarão derrotar da Academia de Mestres e no livro Crie sua Campanha de RPG, nós abordamos vários conceitos sobre a vilania. Porém, será que sempre os vilões são humanos? Nem sempre, não é mesmo.

Por isso, resolvi trazer algumas possibilidades para sua criatividade na sua história e que podem mudar sua estratégia com seus jogadores.

  • Homem versus Natureza – Quem sabe o vilão é algum desafio natural como um vulcão, um tsunami ou até mesmo a lua caindo sobre o planeta? Lembrou alguns filmes, não?
  • Homem versus Máquina – E se o vilão for um mega computador que quer dominar o mundo? Skynet (Exterminador do Futuro) e Hal 9000 (2001: Uma odisséia no espaço) surgem como grandes exemplos.
  • Homem versus Sociedade – Quando o vilão é um ideal implantado na sociedade ou um grupo de pessoas possui uma cultura antagônica ao dos protagonistas.
  • Homem versus Sobrenatural – Quando o vilão encara um monstro ou criaturas extremamente fortes e poderosas, muitas vezes incompreensíveis. Algo que H.P. Lovecraft adorou explorar, mas que podemos ver também com Godzilla, King Kong e filmes que exploram espíritos, espectros e outro mundo, como em Stranger Things.
  • Homem versus Destino – Um futuro foi criado e o personagem precisa enfrentar o que lhe foi proposto. Assim, precisa quebrar todas as barreiras para garantir a si mesmo um novo destino.
  • Homem versus Self – Nesse momento o personagem luta contra si mesmo. Enfrentando seus bloqueios e avançando em sua própria vida. Geralmente são conflitos internos entre duas coisas que a pessoas deseja ou precisa. Uma forma de ver é: eventos externos incitam debates internos. Exemplos: Tyler Durden em Clube da Luta, Katniss Everdeen em Jogos Vorazes, onde precisa decidir entre sua família ou combater o capitalismo opressivo; Hamlet ao decidir se mata Claudius ou se comete sucídio.
  • Homem versus Homem – Pessoas de mesmo nível com ideais opostos se enfrentam. Mais comum. Como Scar e Mufasa em Rei Leão, Zeus e Hades, e todos os confrontos onde uma força se opõem a outra.

Será sempre o vilão, um vilão?

Trazendo uma nova perspectiva: o antagonista é sempre aquele que se opõem ao protagonista. Uma força oposta que impede ou dificulta a vida do protagonista sem ele perceber. Um exemplo de discussão é o Mestre dos Magos em A Caverna do Dragão, será que ele é verdadeiramente um ajudante ou sua fala mansa e cheia de sabedoria só enrola os “jogadores” até eles encontrarem a verdadeira saída? Será que Scar é o vilão ou Mufasa que impede Scar de viver sua motivação, sua vontade interna? Sem julgar os resultados, podemos brincar com esse conceito sobre quem é o verdadeiro vilão?

Falo muito disso no módulo de Vilões na Academia de Mestres.

Superman contra Doomsday - George Evangelista
Super-Homem contra Doomsday por George Evangelista

Agora sim, os Arquétipos!

Vamos explorar alguns arquétipos que são poderosos para suas histórias. Entenda quais podem ser úteis para você na sua campanha, ou história, e vamos desenhar esses conceitos que podem te ajudar a criar campanhas incríveis para seus jogadores.

Anti-Vilão

O Anti-Vilão é um arquétipo que fala de um vilão que tem motivações positivas, bondosas, por assim dizer. Ele faz as coisas “erradas” (certas em seu ponto de vista) por motivos “bons”. Assim, destruir uma cidade pelo bem da humanidade é o correto. Thanos, ao fazer metade da população desaparecer acreditava ser o correto para que o um equilíbrio se reestabelecesse. Assim como em minha mesa de Cyberpunk, a Sonhadora acreditava que escravizar a mente das pessoas, para sintetizar o hormônio do medo, para criar uma droga que controla a mente de outras pessoas, para “robotizar” a todos e impedir o livre arbítrio seria a melhor coisa para salvar a população de uma grande catástrofe.

Para esse tipo de Vilão, ele está certo no que está fazendo, mas seus meios não são tão benignos quanto se pensa.

A Besta (O Monstro/ A Criatura)

Trazendo o conceito do Humano versus Monstro, uma criatura é o inimigo nesse conceito. Simples, porém necessário trazer motivação para os personagens enfrentá-lo. Sempre pensando em algo que ele possui ou instiga nos personagens. No filme Tubarão, o motivo de vencer esse antagonista é que ele mata pessoas e impede o “banho de mar”, por exemplo.

Essas criaturas não precisam de razão. Apenas seu instinto já é o suficiente para transformar sua existência em ameaçadora. Suas ações não podem ser vencidas na argumentação e a única maneira de impedi-la é a sua morte.

O objetivo da criatura é apenas se proteger e se alimentar.

O Valentão

É um personagem que bate diretamente com o protagonista com o objetivo de “quebrá-lo” psicologicamente, através da força e/ou comportamento invasivo e desequilibrado. Existe um perfil psicológico que você terá que desenhar para provar a razão pelo qual o valentão faz o que faz.

Estudos apontam que uma pessoa que humilha ou intimida outras pessoas com seu comportamento, são pessoas feridas. São pessoas que tiveram uma infância dura, famílias disformes ou chegavam a sofrer a mesma humilhação e intimidação que reproduzem fora de casa.

Ao criar esse vilão, terá que desenvolver essa história de fundo de maneira interessante e profunda para justificar seus comportamentos e aspirações.,

A Máquina

Muito parecido com A Besta, a máquina é um ser não humano que tira suas próprias conclusões de forma lógica. Não sobre dor, medo ou tem influência emocional, dessa forma tomando decisões apenas pela lógica, sem análise ética e moral.

Seu único objetivo é destruir o herói, independente do custo para isso. Porém seu desafio é como parar algo que não tem corpo ou possui uma grande armadura.

Em alguns filmes encontramos uma casa tecnológica, um androide ou uma nave espacial que perde ou reconstrói seus parâmetros e avança no protagonista ou até mesmo no mundo.

A Mente Mestra

Um antagonista com potencial de infernizar a vida dos personagens, porém utilizando sua mente, e talvez capangas, para isso. É um vilão que pode ser revelado imediatamente ou está sempre obscuro, dependendo de seu ego e objetivos.

É um vilão que busca vencer através da mente e não de forma física. Como Lex Luthor que tenta vencer o Super-Homem analisando seus pontos fracos e criando situações e armadilhas contra esse herói.

Podemos dizer que ele é um mestre em alguma coisa, como um mestre da manipulação, guerra, ciência, política ou qualquer outra área que escolher. Geralmente ficando muito feliz em não colocar a mão na massa e ficar articulando diversos planos para impedir o avanço do protagonista.

O Mal Encarnado

É o próprio arquétipo do vilão em suas primeiras concepções. Um ser que só quer fazer o mal pelo mal. Não há propósito, desejo ou motivação. É considerado um demônio. Pode se aproveitar de situações, de pessoas e faz o mal de forma natural.

É Sauron em Senhor dos Anéis, por exemplo.

Esse vilão consegue, geralmente ter acesso a mente do herói e tenta dissuadi-lo para o lado negro. Um outro exemplo, é o mestre Sith manipulando Anakin Skywalker e transformando-o em Darth Vader.

O Mercenário

Geralmente é um vilão com pouco cérebro e muito músculo. Ele pode, inclusive, ser o braço do vilão da Mente Mestra. Esse antagonista irá importunar o herói com estímulos físicos, desafiando sua percepção, destreza, constituição e força. Não será um vilão que criará planos megalomaníacos, mas tentará por tentativa e repetição destruir seu oponente.

Em alguns casos, é conhecido como Minon, e não são só os amarelinhos simpáticos. Pode ser um grupo de pessoas, como os Macacos em O Mágico de Oz, ou como os capangas do Poderoso Chefão.

Outra variante é o especialista como Boba Fett em Star Wars ou algum atirador de elite

O Fanático

Esse é um vilão que a gente pode encontrar com facilidade no nosso dia-a-dia. Qualquer pessoa que seja muito arraigada com suas crenças e se transforma num fanático pode se tornar um vilão ao impedir o fluxo de vida de outras pessoas. Ele segue uma ideologia tão certeira, muitas vezes impulsionado por uma religião ou código moral distorcido.

Tem uma única missão em sua mente e todos os seus esforços são focados nesse objetivo. Eles são muito difíceis de serem derrotados, pois colocam a missão em primeiro lugar, arriscando suas vidas e qualquer coisa para alcançar esse objetivo. Na vida real, temos uma comparação com terroristas e serial-killers.

Uma virada de chave é fazer esse mesmo vilão sacrificar a própria vida pelo objetivo e assim virar um mártir e aumentar a quantidade de fanáticos.

O Traidor

Nesse perfil de vilão a motivação é a sobrevivência. Portanto, ele traí o protagonista para garantir que irá sobreviver. Entregando informações para garantir fama, fortuna ou apenas para não morrer. O desafio é que ele fica muito próximo aos protagonistas, mas segue sua própria agenda. Manipulando, sabotando e desviando todos do objetivo para garantir o seu.

Uma personalidade que aparece muito dentro desse arquétipo é o agente secreto corrupto (ou duplo), que joga as conforme seus benefícios.

A Vítima

Parecido com o arquétipo de poder inocente, nesse caso o inocente se diz controlado, manipulado ou forçado a fazer coisas que alguém maior, pessoa ou entidade, pediu para que ele fizesse. Ele segura suas crenças que a única forma de sair desse processo é garantir que o plano do seu “mestre” seja executado e que assim, ele garante sua própria sobrevivência.

Seu objetivo é permanecer seguro. Dessa forma, ele irá praticar qualquer atrocidade em nome dessa segurança. Importante é que, por mais que seja vítima, irá utilizar de desculpas para dizer que não é culpa dela. Alguém forçou a sua atitude maldosa.

Esses foram 10 arquétipos. Existem outros, mas que são variantes dos mesmos motivos ou que são menos populares e mais simples. Mas não acabei por aqui, quero deixar ume reflexão que irá guiar a sua construção de um personagem vilão para seu jogo de RPG ou para sua história.

Príncipe Sanguinário - Nino - Arquétipos de Vilão
O Príncipe de Sangue por Nino Is.

O vilão como protagonista

Na hora de construir o seu personagem como vilão, uma grande e valiosa dica é: olhe para ele como se ele fosse protagonista em suas convicções e o real protagonista, os heróis da sua campanha, como antagonistas.

Invista em criar uma história de fundo que tenha profundidade para trazer um vilão que os seus jogadores adorem derrotar em sua campanha de RPG. Busque as motivações, eventos históricos que marcaram profundamente o vilão e criaram esse novo tipo de comportamento.

Lembre que nosso comportamento atual é resposta de eventos que aconteceram no passado. Processo de causa e consequência. O vilão é apenas a pessoa que teve uma interpretação de um evento em sua vida, mas que causou um grande impacto em sua forma de pensar e agir.

Criando uma campanha em cima de um vilão

Nós criamos o livro Crie sua campanha de RPG com base na estrutura do vilão. Com esse livro, você irá criar a sua história a partir do desenvolvimento do vilão como personagem central, dentro de um cenário conhecido por você. Dessa forma fica mais fácil iniciar seu mundo nas campanhas como mestre de RPG.

Um processo estruturado e de fácil compreensão que irá te ajudar a vencer o verdadeiro vilão das suas mesa de RPG: a folha em branco!

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