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5 passos para criar um NPC relevante para seu RPG

Não importa qual RPG de Mesa que esteja jogando, sempre haverá a necessidade de NPCPersonagem Não Jogável ou Personagem do Mestre de Jogo — para trazer informações, contraste, suspense ou até comédia para a mesa de RPG.

Porém, muitas vezes o personagem que o mestre cria é superficial. Isso pode acontecer por dois motivos: O mestre foca em construir apenas a ficha, garantindo que esse possa entrar em combate, por exemplo. Ou ele inventa o personagem na hora, através do improviso, mas após algumas sessões o NPC não ganhou profundidade.

Note que existem níveis de NPCs para você utilizar na sua campanha:

  • O Rapidão – Aparece apenas para dar uma informação, mostrar um caminho, e vaza.
  • O Parceiro – Aquele que aparecerá algumas vezes, mas não terá participação na trama principal.
  • O Brabo – Faz parte da trama principal. Pode ser coadjuvante ou antagonista, mas o relacionamento com ele pode impactar no desenvolvimento do jogo.

Nota: Nomes aleatórios para simbolizar conceitos. 😉

Tá, mas o que o meu NPC precisa?

Para trazer para a vida seu NPC, mesmo que ele tenha nascido de improviso, você não precisa escrever dezenas de páginas de história de fundo ou trabalhar profundamente em sua ficha. O NPC, assim como os personagens dos jogadores, evolui com o passar da história, ainda mais se ele for o “Brabo“. E suas anotações irão evoluir junto.

NPCs são tão importantes, que colocamos um módulo de construção de personagens no nosso curso de Worldbuilding. Assim, a gente enrique nosso mundo e traz melhores histórias para nossos jogadores.

Para a gente ter um NPC potente, seguem 5 passos para a gente criar e ter personagens marcantes:

Bora entender cada passo? Ao final, verá que não precisará mais do que algumas linhas para compreender o seu significado.

Aquele NPCzão, o famoso Homem das Tavernas

1) Qual é a função do NPC na história?

A primeira parte que você precisa se questionar para criar um bom NPC é: Por que ele está ali? Por que você irá introduzi-lo na história? Se você ainda não sabe o motivo da criação do seu personagem, não o crie! Super lotar um cenário é horrível para qualquer história ou narrativa. A pior coisa que você pode fazer é criar elementos estruturais — personagens, locais, itens, etc — que não tenham propósito para a trama, pois isso confunde a cabeça dos jogadores (e a sua).

Portanto, antes de criar pense qual é a importância desse personagem, mesmo que ele seja um personagem Rapidão, ele tem que trazer uma informação que irá ajudar os personagens a avançar na história.

Por exemplo:

  • Johnny – Um personagem Rapidão – Surge como um aventureiro que aproveita as mesmas trilhas e pode dar o indicativo de onde está a caverna de um monstro ou o acampamento de inimigos. Após essa interação ele segue viagem. Pergunta: Ele dará o caminho fácil ou o desafiador. (risada maléfica)
  • Margarete – Uma personagem Parceira – Ela tem algumas missões que precisam ser cumpridas para desenvolvimento dos personagens (ganhar XP), mas que na verdade é um elemento legal para os personagens terem outra perspectiva da trama principal. As side-quests são legais para ambientar os jogadores e trazer mais imersão. Já parou para pensar nisso? Ela aparecerá, concederá itens e informações importantes.
  • Tenente Kennedy – Um personagem Brabo – Ele tá junto ali o tempo todo. Participa de algumas missões, pode ser a chave para encontrar um outro NPC ou vilão, além de talvez ser uma pessoa de interesse no cumprimento (ou não) da trama pelos jogadores. Ele se apresentará ao longo do tempo e terá relacionamento com os personagens.

Entende que seu NPC precisa de um motivo para estar na história, seja ele leve ou profundo. Se não tiver motivo não coloque.

02) Qual é a história do NPC?

Agora que você já sabe o motivo do seu personagem estar dentro daquela história e fazendo parte da trama, chegou o momento de pensar: Como ele chegou até ali? Como ele se tornou quem ele se tornou? Essas são perguntas que você terá que responder para construir NPCs que terão impacto na vida dos personagens.

História é feito de dois conjuntos: os fatos que aconteceram e a percepção do personagem sobre o que aconteceu. Assim, construímos memórias! As memórias são o elo mais simples para construir a sua história.

Aqui temos um post só falando de como usar memórias no RPG, clique aqui.

Para personagens rapidão, como no caso de Johnny acima, uma memória é o suficiente, e até uma memória recente. Pois, neste caso, você só precisa trazer o motivo dele estar ali caminhando na trilha. Talvez ele esteja caçando um animal que seu avô morreu tentando caçar ou buscando uma jóia que lhe dará poderes mágicos. Só você saberá dizer!

Exemplo do NPC Tenente Kennedy

Já no caso do personagem Brabo, o Tenente Kennedy, é importante desenhar uma série de memórias. As memórias unidas, criarão um perfil comportamental e padrão decisório, de acordo com esse histórico. Se ele participar de várias missões e estiver perto dos jogadores, crie umas dez memórias para encaixá-lo.

  1. O Tenente quando criança brincava com seus amigos, mas sempre era o último a ser escolhido nos jogos de força e velocidade.
  2. Seu pai sempre lhe falava que homem forte e valente vai ao exército, e em jantares de família escutava o pai falando dos amigos militares.
  3. Forjou a identidade aos 16 anos para entrar mais cedo no exército, conseguiu entrar e “sumiu do mapa”. Sabia que seus pais o procuravam pela cidade, mas sempre se escondia. — Veja que a memória é exclusiva na percepção do personagem.
  4. Revelou sua identidade após 3 anos de serviço e foi preso. Seus pais foram notificados e escolheram não visitá-lo.
  5. Ao sair da prisão militar foi “resolver” as coisas com seus pais, porém fecharam a porta em sua cara. Jamais criaram um filho mentiroso, disseram.
  6. Encontrou os antigos amigos de colégio, o bullying continuou mesmo com novo corpo. Brigou com um deles e perdeu.
  7. Conseguiu voltar para o exercito e continuou sua trajetória focado. Alistou-se para as forças especiais, mas não passou por falta de inteligência emocional. Não conseguia lidar com perdas e erros. Assim, sempre se estressava. Uma vez agrediu um colega de treino e assim foi dispensado.
  8. Começou a fazer terapia para entender o que acontecia com seus pais e seus acessos de raiva. Agrediu o terapeuta quando encarava a verdade.
  9. Saiu do exército e criou um grupo de mercenários para resolver algumas questões especiais. Executou missões secretamente e de forma excelente. Foi convidado para ser as operações sujas, que os militares não poderiam aparecer. Contratos surgiram!
  10. Foi convidado para uma missão de resgate em país estrangeiro, mas sua cara já estava marcada. Precisava de pessoas com habilidades para executar a missão com maestria.

Percebe que dá para ter uma ideia da história e até da base comportamental do personagem? Consegue perceber que brincando, de forma mais leviana ou profunda, é possível construir uma backstory que será suportada ao longo da aventura?

03) Quais são os traços únicos do NPC?

Os traços do personagem são características únicas que revelam forma de agir e decidir. Revelam habilidades ou até mesmo maneirismos. Pergunte-se: Como eu faria um personagem diferentão? Pergunte isso para obter coisas diferentes. Exemplo: em Zombicide: Chronicles, o RPG de Zombicide, uma das diretrizes para o Mestre de Jogo é criar elementos diferentes nos zumbis, senão fica tedioso. Se todo mundo for igual, o seu cenário e jogo ficarão chatos.

Por isso, questione-se!

O Tenente Kennedy pode ter, por exemplo, um vício em fumar charutos. Não porque gosta, mas pelo motivo de ter visto muitos filmes com homens fortes e militares fumando charutos. Isso lhe traz uma sensação de superioridade, porém lhe causa pigarro e ele no fundo odeia. Assim, ele sempre acende o charuto, mas não fuma.

Já a Margarete, tem um traço de sensualidade e tentará sempre convencer os outros usando o seu corpo ou o das pessoas de sua equipe. Dessa forma, ela tenta usar o instinto básico do ser humano para capturar informações privadas para ganhar vantagens em negociações, por exemplo.

Perceba que aqui estamos falando de comportamento, ação e decisão. Estamos na mente e emoções do seu personagem, e a descrição não precisa ter mais de 2 ou 3 linhas. Um personagem mais Brabo pode ter mais de um traço para dar suporte ao seu diferencial.

04) Quais são as características visuais do NPC?

Agora chegamos na embalagem! Depois de prepararmos o conteúdo do seu NPC, agora chegou a hora de dar características visuais e funcionais. Será que ele terá três braços? Haverá cicatrizes? Aqui a sua imaginação é limitada pela história e memórias. Lembre que quase todos os personagens nascem perfeitos, porém são os fatos e escolhas da vida que moldam seus corpos e história. Sendo assim, se ele não tiver um braço, deve haver uma memória para isso. Se ele brigou com os amigos, como no caso do Tenente Kennedy, talvez ele tenha cicatrizes da luta. Se usa a sensualidade como a Margarete, talvez ela tenha atributos avantajados ou diferenciados que chamem a atenção e que ela use como arma psicológica. Além disso, ela pode se vestir de forma diferente. Em cyberpunk, por exemplo, a galera é tarada por cromo. Dessa forma, quem tem grana altera a pele para ter aparência de metal, que é o caso da cantora Lizzy Wizzy.

Lizzy Wizzy é uma personagem de Cyberpunk toda “cromada”.

Interessante você refletir sobre o que será único e distinto de seu personagem? Algo que seja identificável de longe. Como o Cromo da Lizzy Wizzy, o Charuto nunca tragado do Tenente Kennedy ou talvez o vestido vermelho decotado de Margarete.

05) Como o NPC é introduzido na história?

Agora você já tem seu NPC criado para a sua história, porém o que fará sucesso é a introdução dele na história. Um fato que muitas vezes esquecemos de salientar ou nos preocupar. Quando ele surgir ele deve contar um pouco de sua história através do ambiente e do comportamento. Assim, os jogadores já começarão a entender que é o personagem.

Margarete pode se aproximar tentando seduzir um dos personagens, mostrando até vigorosidade em seu comportamento de tal forma que assusta os jogadores. Tenente Kennedy pode surgir acendendo seu charuto, pigarreando e não tragando-o — inclusive se alguém quiser observá-lo, você pode narrar que a pessoa percebe que ele não coloca o charuto em nenhum momento na boca. Já Johnny surge curioso pela estrada, mas esquivo. E assim, por diante.

Bole o primeiro encontro, mas sem neura. Se não for como queria, se não conseguir apresentar do jeito certo, e a primeira impressão não for boa. Tranquilo! Teremos diversas outras oportunidades.

Criando seus personagens cada vez mais profundos!

Conforme você vai compreendendo a natureza da criação de um personagem, o impacto de suas memórias e necessidade de uma história que explique seu surgimento, você terá mais facilidade de criar e imaginar esses NPCs de cara. Dessa forma, improvisar para você será de grande valia e em alta velocidade.

Se você curtiu esse post, que tal olhar outros posts em que falamos sobre criação de personagens?

Nos vemos nos próximos posts!