7 coisas que eu gostaria de saber quando comecei a narrar RPG
Você joga RPG com seus amigos, mas tem aquela história no fundo da sua mente querendo sair e a vontade de narrar RPG começa a emergir? Começa a sentir que pode criar histórias incríveis, mas tem receio ou medo? Por fim, você acredita que seus amigos podem não gostar da sua história, jeito de narrar e fica com medo de se colocar como mestre de RPG?
Conforme a gente assiste pessoas narrando na Twitch ou até mesmo nossos amigos, podemos ficar um pouco nervosos e até ansiosos em relação ao que iremos narrar. Pois aquele monstrinho no fundo de nossas cabeças fica falando que suas coisas não são tão boas quanto a do seu amigo. Assim, um monte de minhoca começa a surgir na sua mente e você esquece da parte mais importante do RPG: se divertir em outro universo!
Por isso, separei 7 coisas que eu gostaria de saber quando comecei a narrar minhas primeiras mesas de RPG.
Nenhum sistema substitui uma boa história
Meu primeiro momento congelante ao começar narrar RPG foi escolher o sistema! A ideia mais segura na minha mente era a de que eu poderia usar o D&D, que todo mundo conhece, e eu estaria tranquilo. Só focar em narrar A Mina Perdida de Phandelver que estava tudo certo.
Porém, não foi tão glorioso quanto eu imaginei. Abracei o sistema, tentei entendê-lo e segui-lo à risca, mas eu não sou aquele mestre que pega todos os detalhes do sistema. Então aconteceu o pior: uma sessão chata! Sorte que o mestre Vitão estava jogando na minha mesa e me deu o feedback: “Se concentra na história! Coloca a regra que fizer mais sentido, mas lembre-se de focar na história!“
Aliás! Foi nesse dia que a primeira faísca da Academia de Mestres de RPG surgiu. Após umas 2 horas de conversa e filosofia. Assim, pensamos que o primeiro movimento da Academia de Mestres seria desmistificar os sistemas.
Dessa forma entendi que se os jogadores tem liberdade para agir de acordo com sua história de fundo (backstory) e respeitando seus atributos e perícias, eles irão se divertir muito mais. Além disso, a história flui de uma forma muito mais leve.
Portanto, você pode abraçar qualquer sistema que faça sentido com sua história. O mais importante é garantir a fluidez, o ritmo e a diversão de todos.

Narrar RPG é uma tarefa em conjunto!
Pegando a dica acima e levando ela para o próximo nível, a gente precisa entender que a história não é do mestre, mas é de todos! Todos os jogadores contribuem com a história. Ouso dizer que o mestre controla alguns personagens: o cenário, os NPCs e as criaturas e monstros, enquanto o jogador controla seus personagens. Assim o que acontece no meio do caminho é de responsabilidade de todos.
Na minha mente, enquanto eu narro, eu imagino o tempo todo o que está acontecendo no vilarejo, na cidade, com o NPC X e o Y. Por exemplo, se o bardo chaveca a taverneira, que eu já sei que tem um marido guerreiro, eu já imagino ele voltando e recebendo informações de um amigo que estava na taverna. Assim quando o bardo chegar na taverna e dar de frente com o guerreiro, ele irá agir de forma diferente. E o bardo pode nem saber quem é o cara, mas é tudo um jogo de causa e consequência.
Portanto entender que narrar RPG é uma tarefa em grupo e que o cenário vai se alterando conforme as atitudes dos jogadores, fica tudo muito mais leve.
Dessa forma, você começa a entender que não precisa ter tudo 100% pronto.
Despreparado? Sempre!
Depois de passar várias sessões num mix entre excesso de preparação e de chegar na sessão com uma folha em branco, percebi que existe um equilíbrio. Porém, como a gente nunca pode prever o que os jogadores irão fazer, acabamos não tendo controle do jogo. Cheguei a preparar uma vez, 27 possibilidades de saída de uma sala fechada. Os jogadores encontraram a versão 28.
Portanto, você sempre estará despreparado e terá que contar com sua criatividade e habilidade de improviso, para criar as situações certas. Mas isso é tranquilo! Só participar da Academia de Mestres de RPG que a gente te ensina como preparar suas sessões de forma rápida, simples e que te dá espaço criativo.

Se for contar a sua história escreva um livro
A gente tem uma linha de pensamento que diz que se você, como mestre de RPG, quer contar a história do seu jeito e conduzir seus jogadores ao invés de vivenciar com eles. Você está perdendo dinheiro e deveria escrever um livro! Sim, escreva um livro e você poderá contar a sua história 100%. Porém, o divertido do RPG é a troca e a imprevisibilidade de ação dos jogadores. Portanto, se você quer se divertir se torne um mestre que anda ao lado dos jogadores e não um passo à frente.
Eu faço as minhas regras
Esse é um aprendizado que traz muitos questionamentos. Será que a gente deve seguir as regras de um sistema à risca ou devemos seguir as nossas regras? Vou pegar um exemplo de uma sessão recente: um jogador queria correr, pular em cima de um carro e saltar no pescoço de um homem que estava dando tiro nele, guardar sua arma e ativar seus estripadores para lhe cortar. Se eu seguisse as regras, isso seria impossível! Porém, eu acredito que a interpretação é mais importante que o sistema. Então só disse que iríamos rodar um dado e se esse dado der certo, ele conseguiu, senão irá falhar.
Ele conseguiu! Saiu correndo, pulou no carro, só que ao invés de acertar a cabeça, acertou a perna esquerda, mas foi o suficiente para se tornar uma cena memorável do jogo, onde todos vibraram muito. O sistema não deixaria fazer, mas eu como mestre deixei, pois queria essa cena de filme incrível.
Portanto, há vários momentos que você poderá criar regras, desafios e jogos para atiçar seus jogadores que estão totalmente fora das regras do sistema. Na minha visão, entendi que a diversão é mais importante do que o sistema. O mais engraçado que fazendo do jeito certo, até o advogado de regras aceita as mudanças.
Eu não preciso prever tudo que irei narrar
Conforme você for narrando mais mesas de RPG, começará a entender que quanto mais simples sua preparação, mais versátil fica o jogo para você e dará muitas possibilidades para os jogadores. O grande segredo é ter um nível de preparação que dá liberdade para os jogadores e que você aplique de forma modular. Portanto, não adianta prever todas as ações, como falei acima, a gente perde 90% do que prepara, pois os jogadores fazem coisas diferentes do que imaginamos.
Por isso, eu sigo o sistema de preparação que ensinamos na Academia de Mestres de RPG da Nuckturp. Um sistema modular que não dá a previsibilidade do que irá acontecer, mas desenvolvemos peças que podem ser encaixadas de acordo com o andar da história. Além disso, o mais incrível é que você usa quase tudo o que preparou. Portanto, você está preparado na medida certa.
Os dados são coadjuvantes ao narrar RPG
Os dados, nossos maiores aliados e parceiros, são apenas coadjuvantes na história. Existem muitos eventos em uma mesa de RPG, que não precisariam de rolagem. Por exemplo, se um personagem tem uma percepção alta, ele automaticamente consegue perceber alguma coisa na nova sala. Assim, cabe ao mestre saber os pontos fortes e fracos de cada personagem para narrar rapidamente as coisas e dar ritmo para a aventura. Porém, se o jogador realmente for fazer o esforço de procurar, aí sim rola um teste.
Portanto, quando eu uso os dados ao narrar RPG? Quando o jogador vai buscar uma informação, quando ele vai fazer uma ação e ele não é tão proficiente assim ou quando ele precisa interagir com algo ou alguém. Nos combates eu não preciso nem falar, né? É óbvio que usa!
Assim, se um jogador meu de Cyberpunk 2020 quer hackear um sistema e ele é proficiente em programação, por exemplo, eu o deixo entrar no sistema com facilidade. Porém ele tem que me contar como irá buscar a informação ou reprogramar um sistema, para eu analisar o teste de rolagem. Isso num computador simples, é óbvio.
Dessa forma, não saia pedindo rolagem de tudo. Você pode analisar a ficha dos jogadores e dizer, você vê isso, enxerga isso ou até, se tiver coisas na backstory do personagem, você pode fazê-lo se lembrar.

Eu não preciso ser o melhor
Ao narrar RPG eu não preciso ser o melhor em descrever, em atuar ou narrar uma determinada situação. A gente precisa entender que o jogo acontece na mente de cada jogador. Portanto, não se preocupe se é o melhor, só narre! Junte um grupo de pessoas para começar a contar a sua história.
Você perceberá ao longo da sua carreira como narrador e mestre de RPG que você cada mestre tem um estilo de jogo, de narrativa e que os jogadores certos irão se vincular. Além disso, perceberá também, que os grandes mestres são os que mais estudam, pois são os que sempre vêm um GAP e querem melhorar.
Se você tiver jogadores na sua mesa e eles voltarem na sessão seguinte, está tudo certo!
Lembre-se que esse é um jogo em grupo, todos colaboram para a evolução da história e é a participação de todos que faz o jogo acontecer.
Showman? Não senhor
E o último ponto é lembrar que você não precisa ser um showman da atuação para que uma mesa de RPG seja divertida. Hoje temos a plataforma de entretenimento que é o Critical Role e muitos chegam até a gente querendo ser o Matthew Mercer, porém esquecem que a profissão dele é de dublador! Que ele trabalha em filmes, seriados e no próprio Critical Role com vozes.
Porém, uma história bem narrada não é sobre fazer vozes, se vestir ou criar um clima. Isso é o que a gente chama de perfumaria. Isso ajuda muito, mas não é o essencial. Portanto o que importa é você fazer os jogadores conseguirem imaginar as cenas. Deixando os intrigados e querendo saber mais sobre o que está acontecendo ali naquele lugar, com aquelas pessoas e o que elas podem fazer para ajudar.
Entendeu? Showman é um atributo do mestre para narrar RPG, mas não é o fator definitivo. Relaxe e conte sua história.
100% você ao narrar RPG
Por fim, o segredo para narrar RPG de uma forma divertida e envolvente é você ser quem é e se divertir no processo. Em nossas observações podemos perceber que quando o mestre se diverte, todos se divertem. Respeite seu estilo e aos poucos vá aprimorando suas habilidades. De passo em passo, você pode se transformar num grande mestre e dominar várias histórias e sistemas.
Sim, você pode! Por isso criamos a Academia de Mestres de RPG, para que você possa aprender com quem mestra quase todo dia e com alunos que evoluem muito rápido por aprenderem novas habilidades e praticarem.