As 5 mentiras que os mestres de RPG acreditam
Se tornar um mestre de RPG é dominar um conjunto de habilidades. Porém, o que muitos mestres acreditam é que eles precisam estar perfeitos para começar a narrar ou serão julgados pelos jogadores. Aqui eu paro um minuto e digo: você só será criticado por mentes que são inferiores à sua. As pessoas que gostam do jogo, de você e sabem que é um processo de desenvolvimento irão te apoiar! Não importa como.
Portanto a gente sabe, desde a Academia de Mestres de RPG, que tudo é um processo de curtir essa aventura de se tornar um mestre melhor a cada dia, de abraçar os erros e de ter coragem de expor suas ideias e a si mesmo.
Por isso, resolvi trazer cinco mentiras que a gente escuta ao falarmos sobre mestrar um jogo de RPG, sobre narrar e, muitas vezes, sobre improviso. Bora entender?
O mestre tem que saber todas as regras do sistema
A não ser quer você seja um androide com um HD insano e uma memória visual e relacional de alto desempenho, essa mentira cai por água abaixo. É humanamente impossível decorar todas as regras de um sistema de RPG, principalmente daqueles mais táticos e complexos. Assim, a única coisa que você pode fazer é recorrer aos livros quando necessário. Ainda mais que você não está em uma prova oral da escola, você está jogando RPG com os amigos. Além disso, os próprios jogadores podem te ajudar, pois eles provavelmente conhecem as regras de mecânicas de seus personagens.
Houve mesas que já entrei sabendo apenas as regras de rolagem para teste e de combate. Dessa forma, quem ia me contando as regras de magia, armas e combate de seus personagens eram os jogadores. Eles falavam, eu acreditava e deu muito certo.
Apesar de não ser um explorador de sistemas é comum eu pegar algum sistema para já testar, sentir na prática seu cenário e mecânicas. Só assim eu conseguia realmente aprender (e ver se gostei ou não)!
Portanto, mentira desvendada. Você só precisa saber o básico e ir evoluindo a cada sessão!
Tem que prever tudo o que acontecerá na aventura
Se você for uma encarnação da mãe dinah pode ser que você consiga prever o futuro. Mas com a hipótese que você está trabalhando com pessoas completamente diferentes de você e que estão vivenciando a história em suas mentes, acho que não será possível prever tudo. Dessa forma, pensando que eles tem um motivador e ideias para seus personagens que você jamais saberá, é impossível prever o que acontecerá na aventura. Até aventuras prontas possuem espaço para mudanças e adaptações. Um exemplo disso está nessa aula da Academia de Mestres onde o mestre Vitão adapta a aventura A Mina Perdida de Phandelver e ajuda mais ainda os mestres iniciantes.
Assim, você não precisa se preocupar com o que acontecerá, seu foco deve ser outro.
Você deve pensar o que será apresentado à seguir para seus jogadores, quais são as situações. Assim deixando os jogadores te surpreenderem com interações e explorações que você, talvez, não tenha pensando. Eu sempre me surpreendo! Inclusive tenho entrado cada vez mais despreparado para poder curtir os próximos passos dos jogadores.
Aqui é interessante você encarar o cenário como personagem do mestre. Dessa forma você verá que o cenário evoluí com as ações dos jogadores e você se diverte com um cenário reagindo às interações.
Falo bastante disso neste post aqui.
Mentira destrinchada?
O ideal para entender essa verdade é você conhecer o manual Crie a sua campanha de RPG, que nós disponibilizamos para você. Nesse livro você terá todas as informações necessárias, além de um passo-a-passo para você criar a sua própria campanha. Verá que no final, tudo pode ficar mais simples do que você imagina. Acesse aqui o livro crie a sua campanha de RPG.
Precisa saber todas as informações dos personagens dos jogadores
Aqui temos várias informações que precisam ser analisadas. Desde a ficha do personagem até a história de fundo (backstory) que o jogador montou para essa aventura. Porém, muitos mestres focam na ficha e em saber como “combater” seus jogadores, ao invés de focar na história em si e jogar os personagens como protagonistas na narrativa.
Ao entender que a ficha do personagem é do jogador e o mundo, o cenário, é do mestre de RPG, você precisa dar uma olhada rápida, aquele confere na ficha dos jogadores. Porém, deixe que eles te contem seus poderes, armas e munição, por exemplo. Jogue partindo do princípio da confiança e da diversão, não só dos combos e batalhas.
Outro ponto importante é que alguns mestres de RPG tem vergonha de parar uma narração ou jogo e perguntar: Qual era o nome daquele seu colega que fez tal coisa com seu personagem? Você pode perguntar o que quiser para seus jogadores à todo momento. Aliás, recomendamos lá na Academia de Mestres de RPG que você use as perguntas como forma de criar a aventura com os jogadores.
Um grande erro porque achei que sabia tudo
Um exemplo disso foi em uma aventura que eu cometi um grande erro. Ao iniciar, eu, a partir das histórias dos personagens que me foram entregues, criei uma ideia do que seria o motivador de cada personagem para embarcar numa aventura. Na sessão 01 a patrona que contratava as pessoas apresentou esses pagamentos e benefícios e um dos personagens disse “não“. Em suas palavras: “Isso não me motiva.” e ao final da sessão, no momento de feedback, o jogador disse: “Eu só fui junto para continuar a aventura, mas o que foi apresentado não motivava meu personagem.“
Qual era a forma correta então? Saber que eu não sei tudo e perguntar. Assim, o jeito certo seria: “Fulano, me conta, qual é o motivo pelo qual seu personagem irá embarcar nessa aventura? Qual é o motivador dele?” e assim, questionando cada um. Pois, conforme a gente fala na Academia de Mestres de RPG, você, mestre, só sabe o que acontece com o cenário e os NPCs, o personagem é de total poder e compreensão dos jogadores.
O mestre tem que saber descrever cada detalhe
Pela minha experiência nem todo narrador é descendente de J. R. R. Tolkien. Assim como ele passa páginas descrevendo uma árvore em seus livros, se você fizer isso em uma mesa de RPG prepare travesseiros ou café. Uma mesa de RPG é dinâmica e você só precisa descrever o suficiente para os jogadores entenderem onde estão e criarem uma imagem mental do local e dos personagens. Dessa forma, você trabalha um processo onde o cérebro do jogador completa as informações de acordo com sua própria experiência e percepções. Tanto que você pode pedir para cinco jogadores desenharem uma cena e verá os mesmos elementos, mas de formas diferentes. Pois cada um está vendo a cena de acordo com o olho da mente.
Na aula O Básico para Você Narrar RPG, o mestre Vitão explica a importância da simplicidade, dos sentidos e dos elementos que podem ou não ser narrados.
Portanto, não se preocupe se gaguejar, precisar parar para pensar ou não descrever tudo o que tinha ensaiado (caso tenha feito isso). O jogo é jogado na cabeça de cada um e a mente humana é capaz de preencher os espaços vazios sozinha. É assim que funciona quando você lê um livro. É por isso que você tem mais prazer ao ler um livro do que ao assistir um filme. No filme tudo é 100% entregue, no livro tudo é criado na mente.
Preciso fazer vozinhas e usar cosplay
Com um universo de RPGs aparecendo no youtube e em podcasts, muitos mestres e jogadores acreditam que para se contar uma boa história precisam atuar e aí se diminuem e acanham. Vozes e cosplay são perfumaria para quem já joga e quem é mais expansivo. Não é necessário de modo algum se expressar de alguma forma diferente.
Veja que você mestre pode dizer: “E com uma voz mais tímida a personagem diz…” ou “Com um tom mais alto, ensurdece os personagens e todos ao seu redor ao gritar…” percebe que você não precisa interpretar?
Eu mesmo, como pai, tive que narrar uma mesa de RPG com meu bebê dormindo ao lado. Você acha que fiquei gritando e fazendo várias palhaçadas? Não. Meu bebê podia acordar no quarto ao lado. Então mantive um som bacana, variações de velocidade e foquei em trazer as informações certas. Deu certo a sessão, todos gostaram e queriam mais.
Então, você não precisa ser um Mathew Mercer para ser um mestre de RPG sensacional. Um bom mestre é aquele que engaja e cria com seus jogadores, o resto é perfumaria para deixar tudo mais divertido ou bonito.
Chega de mentiras para mestres de RPG
Assim que a gente entende todo o processo do jogo de RPG, como a mente humana funciona, como engajar nossos jogadores e como criar aventuras inesquecíveis. Ao entender a mecânica por trás do jogo, ou como gostamos de falar, o jogo por trás do jogo. Você deixa de acreditar nessas mentiras e se joga de corpo e alma na criação de histórias. Assim, desmanchando todo uma rede de mentiras criadas por outros, ou por sua própria mente, para avançar em um estilo de jogo único – o seu!
Fez sentido tudo isso? Espero que sim!
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