Breakpoint – Cascata de Estrelas
Se essa é sua primeira vez leia desde o capítulo 01, clicando aqui.
Capítulo 04
Breakpoint
Eram tentáculos enormes, compridos e encharcados de uma substância grudenta. Minhas pernas tomadas foram puxadas para mais e mais perto do que me chamava. Eu ouvia minha própria voz gritando sem mesmo ter voz:
– PARE! POR FAVOR! EU FAÇO QUALQUER COISA! – meus braços e pernas chacoalhando desesperadamente, eu tentava me soltar sabendo que era pela minha vida – QUALQUER COISA! EU FAÇO QUALQUER COISA!
A luz se apagou e um sentimento estranho dominou o meu corpo. Algo tomou minha mente. Tudo doía em exaustão, mas algo pulsava em meu peito como uma sensação de dever. Vocês podem achar que eu estou louco… E talvez eu esteja mesmo, mas entenda. Não é fácil vivenciar essas coisas. E eu não digo isso porque quero que você se convença que não foi um sonho, não senhor, é porque eu queria que fosse.
Meus olhos se abriram pesados, uma enxaqueca dominava o meu ser. A luz machucava batendo contra o azulejo esbranquiçado do banheiro refletindo até no material da banheira. Algo fez força de dentro do meu estômago para sair para fora, mas não tinha nada para soltar então tossi algumas vezes até cuspir um pouco de sangue. O primeiro pensamento que me tomou foi “como vim parar aqui?”. Depois daquele pesadelo, estava acordando mergulhado numa água morna completamente nu. Meu corpo marcado de hematomas como se tivesse sido amarrado e espancado e, na tentativa de levantar, uma dor que me lembrou do feito com a porta: minha mão estava enrolada em bandagens.
Eu acho que demorei ao menos uma hora para conseguir levantar, caminhar até a porta e descobrir que voltei para o meu quarto. Me vesti devagar e, vendo o dia brilhar lá fora, não me segurei ali. Os corredores pareciam tão confusos quanto antes, mas cheguei até o elevador que, inesperadamente, se abriu no sexto andar e três rostos conhecidos adentraram: Lea, George e Olivia.
– Ora, bom dia, senhor Thomas! – a senhora me dava um pouco nos nervos com seu tom alegre e falso – Ande, George, seja educado e cumprimente nosso colega.
– …Bom dia. – o velho se encostou num canto de braços cruzados bufando.
– Thomas! – Lea hesitou em me cumprimentar depois de reparar em meu estado – … O que aconteceu com você?
– Ah… Eu caí da escada. – não consegui pensar numa boa desculpa, eu confesso – E cortei a mão tentando segurar no corrimão.
– Meu Deus… Algum mal te acometeu? – a senhora me perguntou num tom fino que fez o velho George soltar outro suspiro. No momento em que nossos olhos se cruzaram, eu formulei a resposta, mas outra coisa saiu pela minha boca.
– Olivia… Em qual andar você e o George estão alocados? – eu percebi pelo arregalar de olhos dela a ousadia da minha pergunta. Lea também estava boquiaberta.
– … No sexto andar. – quem respondeu foi George – Já estamos aqui há mais de um mês, depois de muito, estamos no sexto andar.
– Ora, não seja bobo, sempre estivemos juntos no sexto andar! – ela disse entre os dentes, ríspida para ele, pela primeira vez uma reação sincera – Vamos, vamos de escada, nos exercitar. Já chega.
– Mas onde… – Lea não teve tempo de terminar. Olivia clicou no segundo andar e a porta se abriu, deixando eles praticamente escorregarem para fora – Ah, essa é boa. Ei… De onde veio a audácia de perguntar sobre o andar?
– Achei que tivesse algo estranho no jeito que ela fala e…
– Sobre ter uma pessoa por andar. – Lea completou – Eu também reparei. Ah, Thomas… Sei que disse que estava aliviada de não sermos os únicos, mas estou sentindo que aqui não está muito melhor do que as outras partes da Grã-Bretanha… Ainda bem que tenho você.
– Lea, eu… – desviei o olhar dela para encarar a luz dos botões se apagar ao redor do térreo – Eu não sei se podemos confiar em alguém aqui dentro. Nem em nós mesmos.
– Não fala isso… Eu vou pirar se tiver que pensar sozinha num jeito de sair desse lugar esquisito.
– Te desejo boa sorte então… – suspiro com pesar – Não é por mal, mas eu sinto que tem algo de muito errado acontecendo aqui.
– Você também?
Aponto para o lado de fora da porta agora boquiaberto para que Lea também veja. Nós caminhamos quase que em câmera lenta na direção da figura que se mostra no centro do hall esticada e pingando. Não consigo piscar.
– Quem é? Alguém conhecia? – uma voz masculina jovial sussurra como se falar normal fosse um desrespeito.
– Conhecer? Não dá nem pra reconhecer! – uma voz feminina fina e trêmula se pronuncia também.
– Isso é uma baita perda de tempo. – Arthur suspira.
– Já deu dessa palhaçada. Olivia, estamos indo embora. – George se afasta a passos pesados depois que Olivia solta um grito de horror e chora.
– Era… A oitava pessoa? – Lea murmura do meu lado, mas eu estou perdido demais para fazer as contas agora.
Leia todos os textos desta novela digital | Capítulo Anterior | Próximo Capítulo