Comunicação Para mestres

Como contar histórias que encantam!

Uma das primeiras habilidades do homem é a de contar histórias. Pois através dessa habilidade é que a gente se tornou capaz de transmitir conhecimento, garantir a nossa segurança e aprimorar nossas possibilidades de prosperar. Dessa forma foi que o Homo Sapiens conseguiu se distinguir dos demais e garantir a sua posição no mundo hoje.

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Goblins unidos para aprender através de histórias! Por Chris Knight.

“A mente humana é um processador de histórias, não um processador de lógica.”

– Jonathan Haidt

A lógica ao contar histórias é retomar nosso patamar que constrói nossa biologia, emoções e nossa necessidade de sobrevivência. Portanto é através da narrativa que a gente consegue se conectar com nossos instintos ao reagir a palavras, frases e sentenças. Assim nosso corpo responde a cada história!

Qual história, que você se permite lembrar agora, que mais te animou? Que história que mais te amedrontou? Qual história sobre você, você gosta de contar? Escolha em sua biblioteca mental uma história que te marcou na infância. Essas são perguntas que podem te ajudar a lembrar o impacto que contar histórias tem em nossas vidas.

Da criança ao adulto

Contar histórias parece coisa de criança, mas não é! Crianças escutam histórias para aprender. Pois é assim que elas começam a receber as informações do mundo. São os livros que lemos para os pequenos que formatam suas crenças e valores, são as histórias que contamos que criam seus padrões de pensamentos. Porém, para os adultos também funciona, só que escolhemos algo menos criativo como filmes e seriados.

Já parou para pensar como funciona a conversa com seus amigos? É uma conversa sobre dados e fatos ou vocês trocam histórias a cada vez que se encontram?

Uma história está presente sempre que precisamos convencer ou mostrar uma opção a alguém. Por exemplo, um advogado precisa contar uma história para convencer o juri da inocência de seu cliente. Um vendedor precisa contar uma história (ou até fazer o cliente vivenciar a história) para que ele sinta que aquele é o produto que quer comprar. Um bom médico explica para seu paciente o estado de sua saúde através de uma história ao invés de jogar os fatos no colo do mesmo.

Entende como a história está em todo lugar? Até mesmo a fotografia é uma forma de contar uma história sem palavras. Além da fotografia, a arte, as ilustrações e a música são formas de contar histórias. Cada ferramenta de um jeito.

Portanto você é uma máquina de contar histórias, mas ainda não se despertou para isso. Apesar que, se chegou até aqui, já sabe que é um contador de histórias!

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Marco Bucci deixa que amigos se divirtam contando histórias.

Aprendendo a contar histórias!

Aqui, você sabe que somos especialistas em RPG, que nada mais é do que um jogo de interpretação, onde o objetivo do jogo é contar histórias em conjunto! Dessa forma um mestre de RPG e os jogadores da mesa contam uma história juntos.

Para aprimorar nossa habilidade de contar histórias, nós precisamos retomar o passo e voltar para nossa habilidade lá do passado, a de ser criança e escutar curiosamente uma história contado por outros. Assim, a melhor forma de aprender a contar histórias é escutando outros contadores.

Aqui na Nuckturp a gente tem o hábito de escutar a história de outras mesas de RPG, nos emaranhamos em livros e dissertamos sobre a história de filmes e seriados. Assim, a gente consegue imaginar e até criar o que queremos para os nossos jogos e livros.

Porém, a gente percebeu que no meio da floresta existia um caminho mais rápido e mais fácil. Assim, encontramos no meio da floresta uma maga das palavras que se chama Paula Dugaich! E, com ela encontramos o Curso Básico de Contação de Histórias, onde aprendemos algumas sacadas incríveis para usar em nossas mesas de RPG, interpretações e até para aprimoramento de narrativa.

Não satisfeitos, buscamos o Curso Avançado de Contação de Histórias onde saimos da teoria e entramos num mundo completo de exercícios e prática.

Vou deixar o link para você aqui:

Curso Básico de Contação de Histórias - Paula Dugaich - Nuckturp Cursos
Curso Avançado de Contação de Histórias - Paula Dugaich - Nuckturp Cursos

“Mas eu não sei contar histórias”

Você acha que não sabe contar histórias, mas você faz isso e não percebe. Fique presente para todas as interações que você tiver com outras pessoas e perceberá que sempre alguém está contando uma história para alguém. Só observe!

Então, vou compartilhar contigo algumas ideias que podem te ajudar a contar histórias que encantam e podem te ajudar a se comunicar melhor na sua mesa de RPG, ao contar histórias para crianças e até para encantar seus amigos na mesa do bar.

Dicas para contar histórias que encantam

Você é o narrador e os personagens!

Ao contar a história você preenche diversos papéis fundamentais. Você é o narrador que conta sobre o cenário e os fatos. Assim, como narrador você mostra a história por fora, desassociado dos personagens. Porém como personagem você interpreta e traz vida a ele. Dessa forma, como personagem, você está associado, está dentro dele!

Como exemplo vamos contar uma história aleatória:

Era uma vez um menino que carregava uma moeda de ouro. Esse menino andava e andava todos os dias com sua moeda de ouro em seu bolso e em segurança. No entanto essa não era uma simples moeda, pois ela era a única lembrança de seu avô. Seu avô era um velho comerciante que sempre lhe dizia para cuidar de sua moeda.

Até aqui, você está contando como narrador e a sua postura pode ser neutra, curiosa, empolgada ou misteriosa.

– Meu avô sempre cuidou dessa moeda e eu ei de cuidar também. – Pensava o menino ao limpar com um pano sua moeda.
– Ei, o que é isso? – Gritou um antigo amigo do vilarejo que viu o objeto dourado na mão do colega.
– É uma moeda de ouro do meu avô. – Respondeu amigavelmente.

Assim, nesse diálogo que não vou estender e deixarei você imaginar o final, perceba que aqui, ao contar a história, terá que interpretar duas pessoas. Um amigo curioso e um menino amigável.

É claro que é difícil explicar por texto, porém é por isso que a gente recomenda o Curso Básico de Contação de História da Paula Dugaich.

Porém, o mais importante é você entender a diferença entre estar associado ou desassociado durante a contação da história. Assim, você poderá dar vida e colocar a energia certa para aquilo que quer enfatizar.

Use seu corpo

Sua postura influencia diretamente na percepção das outras pessoas e seu corpo altera sua fisiologia de acordo com a mesma. Portanto se você quer interpretar uma pessoa insegura, feche seus ombros para frente, curve as costas e automaticamente você falará como essa pessoa. Da mesma forma, se quiser interpretar um super-herói é só levantar o peito, erguer a cabeça que falará com energia e confiança.

Seu corpo comunica mais do que qualquer coisa que utilizar e ele é a diretor da sua comunicação. Ele dirá o tom da sua voz e pode até influenciar na escolha das suas palavras. Ao dominar a sua fisiologia, você domina sua comunicação e assim domina a arte de transmitir emoções. Intenso né?

Conforme o professor Albert Mehrabian em seu livro Silent Messages (Mensagens Silenciosas) de 1971, a comunicação emocional é baseada em 7% por palavras, apenas 7%! Assim, 38% está vinculada a voz, como Tom, Velocidade e Volume, e 55% da nossa comunicação é através da nossa postura e movimentação ao falar.

Portanto, é possível afirmar que nossa postura e nosso tom de voz dita o sucesso da nossa comunicação. Como você pode ver no TEDx abaixo, Will Stephen mostra como podemos aparentar algo, só usando os recursos disponíveis e a nossa postura e entonação de voz.

Se precisar, ative as legendas oficiais em português.

Use adereços

Uma das formas mais interessantes de transformar sua história é através de adereços. Fotógrafos usam adereços constantemente para criar o contexto da imagem, isso faz com que a história que estão contando naquela foto seja perceptível de imediato. No teatro luzes, sons e figurino são usados para ilustrar a história. Assim, no RPG usamos mapas, miniaturas ou tokens, música, controlamos as luzes e criamos um ambiente para a imersão.

Agora, na hora de contar histórias você não pode abrir mão de alguns adereços que podem fazer a pessoa se colocar no estado de curiosidade e interesse para aquilo que está contando. Se estiver em um bar ou for uma oportunidade rápida para contar a história, não se preocupe de não ter os adereços, faça a pessoa imaginar. Assim, desenhe a cena na cabeça da pessoa. Descreva! Use todos os sentidos.

Agora, se for algo mais planejado, você pode providenciar sons e música, e alguns elementos que podem contribuir com a ilustração da sua história.

Aprenda a descrever o ambiente

Não adianta contar uma história sem a pessoa imaginar o local, o clima e o que está acontecendo no entorno. Lembre que a interpretação de uma história depende do seu contexto.

Por exemplo, se um homem diz ao outro: “Eu quero a mão da sua filha.” Se o contexto for de casamento, é uma interpretação. Agora, se for sequestro é outra.

Ao trazer a noção do contexto, que numa história chamamos de ambiente, o mesmo irá criar a sensação e a interpretação necessárias para você contar a história no ritmo certo e o ouvinte irá compreender o que realmente está acontecendo. Faz sentido?

Essa dica se une com a anterior, pois usar adereços é uma ferramenta incrível para criar contexto.

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Amizades inusitadas acontecem ao contarmos histórias. Por Trevor W..

Ritmo ao Contar Histórias

Para mim uma das principais dicas que eu aprendi com a Paula Dugaich e que precisei treinar é o ritmo. Certamente fazer pausas, respirar e saber o momento certo de falar pode aumentar drasticamente a curiosidade e interesse das pessoas em ouvir sua história.

Portanto, a pausa é uma aliada poderosa na narração e ela ajuda a dar ênfase àquilo que você quer dizer. Além disso, ela ajuda no processo de transição entre personagens ou narrador e personagem.

Assim, o ritmo ao falar rápido ou devagar, ao fazer pausas ou criar espaços ininterruptos de fala podem gerar sensações distintas para que escuta a narração. O ritmo dita a urgência e traz muitas informações do que está acontecendo.

Aprenda a brincar com a velocidade e crie o ritmo para sua história!

Aprofundando a arte de Contar Histórias

Existem outras dicas e até como aprofundar as dicas desse post, porém eu acredito que a melhor forma de fazer isso é se aprofundando com pessoas que chamamos de Contadores de Histórias profissionais. Assim, eu recomendo que você se conecte com a Paula ou outro contador profissional para aprender mais sobre as técnicas narrativas.

Se você quer aprender a contar histórias para jogar RPG, conheça a nossa Academia de Mestres, onde temos módulos focados em Narração. Agora, se quer expandir esse conhecimento e aprender a contar diversos tipos de histórias, para todas as idades, se aventure no Curso Básico de Contação de História e depois no Curso Avançado de Contação de História.

Por fim, espero que esse post tenha sido útil para você! Nos vemos na próxima.


Leitura Recomendada: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/5/reflexoes-sobre-a-arte-de-contar-historias