Como criar um cenário de RPG
Duas coisas pelas quais sou apaixonado no universo do RPG de mesa e das histórias são as criações de personagem e worldbuilding. O mais legal é que um está vinculado com o outro, pois ao desenvolver o macro você cria o micro. Além disso, ao pensar no micro você desenvolve o macro. Assim, ao criar seus personagens você conta a história de um mundo, de um cenário. E ao criar o mundo e o cenário você conta a história de vários personagens. Faz sentido?
Porém, nem sempre foi fácil para mim criar um cenário até que eu tive a visão, junto com os mestres Vitão e Marcel, lá em 2021, que o cenário é o personagem do mestre. Assim como um personagem o cenário tem histórias, características e habilidades. Sim, habilidades!
Porém, esse processo se intensificou quando o mestre Vitão gravou o curso de Worldbuilding para nós, aqui na Nuckturp e muitas fichas começaram a cair. Além disso, o processo ficou mais fácil e mais divertido. Por isso, quero compartilhar algumas coisas muito legais que eu tive de insight que me ajudam a criar o meu cenário de Cyberpunk 2020, Starfinder e Fragged Empire.
Cá entre nós, criar mundos em Fragged Empire e Starfinder é muito constante, pois cada novo planeta pede um worldbuilding básico, pelo menos. Por isso que gosto dos RPGs de mesa espaciais! Liberdade constante para criar. Locais, criaturas, espécies e NPCs muito loucos com motivações estranhas. Me sinto um Mochileiro das Galáxias em cada criação.
Dando tudo errado no Worldbuilding
Um dos fatos mais engraçados que vivi de worldbuilding e criação de cenário foi o meu cenário da minha campanha de Cyberpunk 2020. Fiz várias cacas, mas o povo adorou. Eu vivi no improviso corrigindo falhas na história e em fatores que não pensei anteriormente. Além disso passei muito tempo corrigindo coisas que fiz o oposto: pensei demais.
Um dos grandes aprendizados desse projeto de RPG de Cyberpunk foi que a história e a interação entre os jogadores faz toda a diferença e os erros eram relevados por todos. Coisas como:
- Distâncias e tempo totalmente irregulares e absurdos. Locais repetidos que não faziam sentido. Parecia um bando de teleporte ou “atrasaporte”;
- Figuras e NPCs que não faziam sentido em locais (ou na própria campanha);
- Incongruência relacional entre facções, corporações e as influências políticas e economicas.
Esses são alguns dos exemplos que eu liquidei com a atualização e uma reconstrução do cenário em si. Algo que levei mais “a sério” ou com mais informações graças ao curso de worldbuilding.
Worldbuilding sério (e validado)!
Para chegar num novo cenário de RPG, um novo mundo para meus jogadores se aventurarem. Para eu ter o prazer de ver o meu cenário sendo explorado pelos sentidos dos jogadores, eu corri em direção ao curso de worldbuilding e ao material de apoio para olhar com atenção a minha criação.
Comecei pelo CEP
CEP é uma sigla que inventamos para a tríade do desenvolvimento social: cultura, economia e política. Precisei repensar a cultura do cenário de Cyberpunk (além de esclarecer o conceito) e criar para a minha vontade. Meu objetivo era criar um mundo onde as pessoas estavam mais tempo no virtual, do que no mundo físico e assim, se transformavam em gados perfeitos para máquinas com inteligência artificial e humanos depravados, doentes e mercadores de órgãos.
Culturalmente, o povo deveria ter um comportamento mais radical em relação ao uso dos aparelhos que os conectavam à realidade virtual paralela. Porém, passou reto esse comportamento tanto na minha narrativa, quanto nas decisões dos NPCs. Alguns NPCs tinham uma sensação de uso das pessoas, pois era a organização invadida pelos personagens dos jogadores, mas os demais NPCs davam de ombros. Isso foi ruim.
A economia tinha uma forte presença das corporações e o governo, pago para não governar, se mantinha no topo e ausente. Na parte economica eu consegui fazer bem certo, mas nesse remake já começo a construir uma economia mais acirrada e uma discrepância social maior. É pobre ou é rico. Ambos com ódio supremo um do outro e todos fundamentados no vitimismo. Se um parasse, todo confronto pararia. Assim, criei os valores que os pobres acreditam que os ricos (os corps) são uns ________ por deterem todo o dinheiro. Então os Corps acreditam que os pobres não deixam eles ganharem mais dinheiro e nem querem trabalhar para ganhar o deles.
Os únicos que ganham dos dois lados e dão risada desse conflito são os atravessadores que vendem seus serviços de coleta, tráfego, assassinato, recuperação, etc para quem pode pagar.
Politicamente a cidade agora tem uma cúpula e posições que decidem de cada corporação. Porém, existe uma cúpula dos níveis mais baixos organizados por rockerboys (roqueiros) que querem derrubar os poderes.
Esses três pontos já são essenciais para a construção de um cenário legal e um projeto de worldbuilding, mas tudo tem uma origem e é aí que vamos para o módulo “a base” do curso de worldbuilding.
Usando “a base” de Worldbuilding
A base do seu mundo é composta por elementos que vão de geografia, pois como o mundo foi formado, quais bombas explodiram e como cada região foi elaborada definem o que é consumido, trocado e organizado. Parece besteira, mas é uma simplicidade enriquecedora que o mestre vitão explica nesse curso de worldbuilding. Juro, eu que falo com ele todo dia e discuto estratégias e filosofias, fiquei de queixo caído. Muda a forma como você vê a cidade em que mora, o bairro e até entende os seus vizinhos. Obviamente, entende qual elemento irá colocar em cada parte do seu mundo.
No meu caso, a cidade era envolta por um deserto vermelho com chuvas elétricas, o único local salvo era a plana cidade de Neon City. Nenhuma aeronave entra ou sai, pois as tempestades destroem tudo. Porém, qual é a história dessa vermelhidão? O que aconteceu com o verde, com as árvores e tudo mais?
Lendo o cenário de Cyberpunk RED, consegui trazer um pouco de informações de uma catástrofe e aí, ouso dizer, que se aventurar no deserto ficou até interessante! Consegui bolar até restos militares e agrícolas que são resultado de uma guerra entre corporações.
“Artefatos Lendários” e onde as pessoas vão ao banheiro
Por fim, no módulo Detalhes do Seu Mundo, que eu acho que poderia se chamar O Diferencial. Há dois elementos que foram importantes rever para o cenário de RPG de Cyberpunk da minha mesa. Para criar eventos únicos, gerar curiosidade e propósito para algumas ações, alguns artefatos simbolizam história, poder e até cooperação. Criando, por exemplo, uma guitarra que Johnny Silverhand usou em seu último show antes de morrer. Nessa guitarra há um microchip com informações que Johnny juntou da Arasaka e da Militech, por exemplo, contando como na verdade essas corporações produziam a guerra e mantinham suas finanças em dia, através de uma rivalidade pública, porém amizade nas sombras.
Olha o poder que um artefato pode ter para dar propósito para algumas ações e trazer um pouco de história.
E, por fim, desse texto e não das reflexões. Onde as pessoas vão ao banheiro? Num modo polido de dizer. Onde elas fazem suas necessidades e como isso implica na cidade, na sua economia, política e cultura trouxe uma nova forma de pensar em tecnologias, alimentação, hidratação e até na educação. Pior é que o sistema de saneamento básico de Neon City faz com que a eterna chuva da cidade sombria na verdade seja uma produção constante das sobras humanas. Porém, ninguém sabe disso…
Olha que fortes e poderosas reflexões!
Curso de Worldbuilding
Um dos cursos da Nuckturp que eu não toquei na hora da produção, mas que tive prazer em assistir, baixar o material de apoio e fazer os exercícios. Fiquei surpreso com o conhecimento e posso dizer que eu, e os outros alunos (que estrelaram unanimemente 5 até a escrita desse texto) usamos esses conceitos para nossas mesas de RPG e alguns até para escreverem seus livros.
O curso de worldbuilding pode ser uma rápida viagem para aqueles que só escutam ou uma profunda transformação para aqueles que buscarem destrinchar os conceitos. Assim, você irá criar o seu mundo e um cenário do jeito que quiser. E poderá narrar e se emocionar com seus jogadores explorando o SEU mundo e cenário.
Agora, se for em Sci-Fi espacial, dá para criar dezenas (ou centenas) de mundos. (Imagine um rostinho de diabinho sorrindo).
Acesse aqui o seu curso de worldbuilding e venha criar com a gente.