Contos de Nindäle – Lírio Púrpura

“Vamos Lilli, silenciosa e cautelosa, como sempre”, ela dizia para si mesma em sua mente.
Seus passos e seu pequeno tamanho de gnoma eram como uma brisa vespertina – silenciosos e quase inexpressivos.
A sua robe verde com linhas roxas se destacaria naquela caverna úmida e cheia de lama se não estivesse cheia de terra em seu corpo.
Seu cabelo ruivo e liso deslizava pelo rosto e tornava um pouco mais difícil ver onde pisar.
“Seus guardinhas ainda estão dormindo, gigantão. Não se mexa. Eu só vou pegar aquela florzinha ali”, continuou pensando enquanto se aproximava da criatura.
Era um sapo muito maior que o normal, ele tinha com certeza uns três metros de altura se ficasse em pé. Mas, por sorte, ele estava dormindo.
Alguns fungos com bioluminescência, nas paredes e teto da gruta, tornavam aquela sala da caverna iluminada com uma luz verde fluorescente.
O sapo gigante cochilava próximo ao pequeno lago que ali existia. Seu coaxar ecoava por toda a caverna e, logo atrás dele, o que Lilli tanto procurava: o lírio púrpura.
Uma pequena flor de caule curto e branco com pétalas roxas como o anoitecer. Inocente e inútil para quem desconhece, poderosa e desejada para quem desvenda suas propriedades.
Com pequenos passos ela se aproximava em silêncio pelas bordas do local. Se fosse vista pelo monstro, dificilmente conseguiria colocar ele para dormir também.
Seu tamanho era muito maior do que os guardas da frente, então Lilli sabia que precisava ser ágil e breve.
Chegou a poucos metros dele, e nenhum sinal de movimento do monstro.
Mais alguns passos cuidadosos, e nada.
Encostada na parede da gruta atrás do sapo, ela deslizou cuidadosamente seus pés pelo chão de lama.
As flores agora estavam ao seu lado – mas o Monstro Sapo também. Qualquer movimento mais brusco e isso poderia custar sua vida. Mas, mais do que isso, seu experimento.
O coaxar do monstro era alto. A pele escamosa e úmida dele emanava um cheiro robusto e difícil de inalar.
“Isso não é só sobre você, Lilli. É sobre Nindäle. É agora, concentre-se.”
Fechou os olhos, tampou a respiração e lentamente agachou. Com um olho na flor e outro no sapo, suas delicadas mãos de dedos curtos alcançaram seu caule.
Quando encostou no Lírio e começou a puxá-lo, percebeu que os rumores eram verdade: apesar de curta no lado externo, as raízes do Lírio Púrpura são compridas por baixo da terra.
E as raízes dessas pequenas flores estavam exatamente embaixo do Monstro Sapo.
“Droga”, Lilli pensou. “Vamos, pense pense pense. Tem que haver um jeito. Vai, você consegue, você consegue. Talvez se… não, muito perigoso. Ah e se… não, também não. Tá, pense. Pense direito.”, respirou fundo e de forma silenciosa. Tandi, sua mentora, sempre dissera que respirar era o primeiro passo da descoberta. “Já sei!”.
Lilli se concentrou e suas mãos ficaram imbuídas com uma energia roxa. as direcionou ao chão de lama no qual o sapo estava dormindo. “Desculpe caverna, é por um bem maior”.
A lama logo abaixo do sapo lentamente se transformou em algo acinzentado, pegajoso e escorregadio.
O monstro sapo, ainda dormindo, começou a deslizar lentamente para dentro da água conforme aquele material se espalhava pelas bordas do lago.
O coaxar lento e alto com traços ásperos de ronco permaneceu enquanto o monstro ia mergulhando, ainda sonolento, para dentro da água.
“Isso. Vai, vai, não acorda, não acorda”, Lilli pensava com os olhos quase inteiramente fechados, contorcendo seu corpo, torcendo para que o monstro não percebesse o que estava acontecendo.
O sapo entrou quase inteiramente na água, apenas a parte de cima de seu corpo aparecendo. Seu coaxar agora abafado dentro do lago criava pequenas bolhas que saíam na superfície.
Lilli esperou alguns segundos, imóvel contra a parede apenas olhando e espremendo seu próprio corpo.
E o sapo não se mexeu.
“Uuuuuuuufa”, ela pensou enquanto passava as costas da mão na testa suada. “Deu certo, deu certo. Acalme-se que deu certo”.
Sentiu seu coração palpitando forte voltar lentamente a ficar tranquilo.
“Respira. A solução está na respiração”. Acalmou-se após alguns segundos e estampou um sorriso ao perceber que seu plano havia dado certo.
Colocou a mão embaixo da terra onde estava o sapo anteriormente, arrancou os lírios púrpuras desde suas raízes e os colocou dentro de sua pequena bolsa de couro.
Iniciou seu caminho lento e furtivo para a saída enquanto o monstro sapo permanecia dormindo dentro do lago.
“Bom soninho, sapão!”, sussurrou Lilli sorridente enquanto ela saia daquela caverna com pequenos pulos silenciosos e passava pelos guardas da frente ainda adormecidos.
Contos de Nindäle
Nindäle é um cenário de fantasia medieval que está sendo criado por mim!
Esse conto é o primeiro de uma série de pequenas histórias que serão contadas no nosso blog, todas se passando nesse mesmo universo.
Nindäle é também o palco das aventuras que acontecem na nossa Twitch, onde jogamos RPG de mesa!
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