Crie seu personagem usando memórias!
É comum criarmos personagens de RPG de mesa começando pela rolagem de atributos, analisando perícias, habilidades e por aí vai. Nós criamos personagens assim, pois o sistema estimula essa criação para iniciantes e aprendizes do sistema. Não há nada de errado nisso.
Porém, se você quer criar personagens mais profundos que tenham um comportamento adequado à sua personalidade e história, temos que mudar o ponto inicial dessa jornada e começar por um outro lugar.
Fique tranquilo que eu vou te guiar numa nova forma de pensar sobre seu personagem de RPG, seja ele um personagem de jogador ou um rápido NPC. Dessa forma estamos combinados?
Criando Personagens para Iniciantes
Eu coloco iniciantes nesse primeiro passo, não pela pessoa ser iniciante no RPG, mas porque muitas vezes a pessoa está criando pela primeira vez em um sistema. Eu, até hoje, bugo em criar personagem pro D&D, por exemplo. Até hoje travo na hora de criar o personagem em Starfinder. Mesmo sendo profundo em Cyberpunk 2020 eu às vezes tropeço em um vazio de conhecimento.
O que manda no jogo é o role-play, a interpretação. As fichas de personagem não refletem padrões de comportamento e tomadas de decisão. Concorda? Elas mostram possibilidades de ação, porém poder fazer algo, não significa que seu personagem irá fazê-lo.
Quando a gente toma a decisão de atacar um chef Orc, como exemplo, existe uma história para isso. Assim como também existe uma história que possa promover um acordo de paz ou um não ataque. Imagine que o personagem humano foi criado por uma tribo de Orcs, de forma amorosa, pacífica e dócil. Será que ele realmente iria atacar?
Portanto, nesse primeiro nível criação de personagem, nós construímos a história de fundo através dos pontos de atributos que o sistema permite criar. Criamos a história para justificar os números. Dessa forma, alguns elementos incongruentes surgem, principalmente em campanhas mais longas. Assim, tornando comum a necessidade de rever a ficha e até mesmo a história de fundo do personagem.
Abordagem conceitual na construção de personagem
De uma forma mais avançada o jogador pode criar um personagem através da história de fundo. Assim, ele cria elementos que, em sua maioria, tem coerência e, então, começa a desenvolver a ficha de personagem através desse conceito.
Eu serei um bardo-ladino, com poderes que iludem e trapaceiam, e que vive nos subúrbios da cidade escondendo seus roubos. Cada música ou poesia que compõem representam alguns de seus furtos ou arrependimentos. Percebe que em menos de um parágrafo é possível já ter a ideia do personagem aqui? Isso acontece porque estamos trabalhando os conceitos e que podemos criar uma grande história para justificar o conceito. Eu mesmo gosto de escrever páginas de história de fundo para os meus mestres, para que eles entendam e se aproveitem das informações que eu passei. Além disso, eu gosto de escrever em formato de conto, assim como fiz dessa personagem. O mesmo se aplica na construção dos NPCs. Penso em um conceito, idealizo uma história e concretizo na ficha de personagem através de números e decisões.
Porém, o que é uma história? É uma junção de interpretações de memórias. A sua história é a junção das suas memórias e como você as percebe, sente e vive. Faz sentido até aqui?
Memórias: Método Ultra Rápido e Prático
Agora imagine o seguinte método durante a criação do seu personagem ou NPC. Você, ao invés de definir dezenas de momentos ou ficar atribuindo números. Antes mesmo de colocar a mão na ficha, você decide quais foram 4, 5 ou 6 momentos muito marcantes para seu personagem. Só isso, mas tem mais um passo logo em seguida. Vamos lá:
Por exemplo:
- O dia em que o cão Filard sumiu da aldeia e seu personagem passou 3 dias e 3 noites procurando até descobrir que o Dr. Arch havia capturado para testes de arma química.
- Aquela semana quando seu personagem foi reprovado no teste de tiro e o avalista pediu para ele consultar um médico ou doutor para dar-lhe algo para acalmar.
- Naquela manhã que ao acordar seus pais já não estavam mais em casa e o personagem não conseguiu ir para a aula.
- Na noite em que o restaurante em que seu personagem estava foi assaltado e, por rápidos reflexos, atira nos bandidos, mas infelizmente eles já tinham acertado a garçonete.
Quatro memórias que já falam muito sobre o personagem e foi mega rápido de escrever. Contando a história de um personagem que era habitante de uma aldeia e depois se agregou ao mundo urbano.
A segunda parte dessa construção está no vínculo emocional de cada memória. Qual é o gatilho que cada memória ativa dentro do seu personagem de RPG?
- Raiva
- “Eu sou falho.”
- Solidão
- Impotência
Percebe que agora, se na mesa o mestre colocar algo que deixa seu personagem sob pressão, ele irá pensar duas vezes antes de agir? Percebe que ele vai sempre andar pronto, armado e em postura de combate, pois não quer perder mais nenhum inocente? Isso pelas memórias. A partir daí, já podemos criar um guerreiro ou algum personagem com foco em combate solo. Faz sentido?
Agora sim, podemos abrir a ficha e alocar os atributos, ou criar um conto que some todas essas memórias e, depois, entra com a ficha de personagem do seu sistema de RPG.
A origem do sistema de memórias e gatilhos
Escrever contos para criar fichas de personagens sempre foi algo que gostei de fazer. Eu abro um word e começo a criar pensando no que eu quero entregar dentro da mesa de RPG. Porém, é legal e fácil fazer isso para um personagem, como mestre, já preciso ser mais rápido.
Assim, recentemente conhecemos o As Chaves da Torre RPG, onde a base do sistema são as memórias. Inclusive podendo alterar, incluir e excluir as memórias. Assim, tendo que analisar a memória que cada escolha na ficha de personagem trará para você.
Veja como construir a ficha de As Chaves da Torre RPG aqui.
NPCs ficaram fáceis de criar
Para criar um NPC agora ficou fácil, pois é só a gente criar 3 memórias legais e seus respectivos ganchos. Assim, o resto a gente desenrola durante o jogo. Lembrando que acontecimentos importantes impactam muitas áreas da vida e não é possível isolá-las.
Esses acontecimentos podem ser positivos ou negativos. A gente tende a usar mais negativos, pois é costume do brasileiro olhar para o negativo, porém eventos positivos também impactam no conjunto de crenças dos personagens. Não é mesmo?
E agora? Vamos começar a criar o seu personagem usando memórias e descrevendo-as em 2 ou 3 linhas?
Conheça o Financiamento Coletivo do RPG que inspirou esse post: As Chaves da Torre.