Contos

Déjà vu – Cascata de Estrelas

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Capítulo 08

Déjà Vu


– E vocês ficaram aqui? – George levantou vociferando em nossa direção – Parados? Esperando amanhecer? Não fizeram nada? Não foram atrás dela? UMA NOITE QUE EU RESOLVO SER BOM PARA ALGUÉM E OLHA O QUE ACONTECE!

– George! Se acalma! – Lea levantou e segurou-lhe os braços enquanto ele chutava a luminária, os travesseiros, os colchões e tudo o que ficasse no alcance de seus pés – Não tinha como a gente se arriscar no escuro com aquele negócio! E se tivessem outros? Não ia ser só a Olivia, seríamos todos nós!

– Pouco me importa! Seus desgraçados! – ele a empurrou contra nós e avançou nos gêmeos, agarrando Cameron pela gola da blusa o levantando – Tudo por causa de um arranhão, hein? Seu bostinha! 

– P-por favor! Me solta! – o garoto soltava algumas lágrimas dos olhos sem brilho algum, uma das mãos para o alto, o outro braço amarrado num lençol o segurando no lugar um tanto ensanguentado – Ainda está aberto, por favor!

– Uma ova! Eu é quem vou abrir um buraco na sua cara, seu verme! – George deu impulso numa mão, mas foi impedido de acertar em cheio o nariz de Cameron – Você também, é? Vocês todos são uns…

– Volte para o banheiro, lave o rosto e fique lá resmungando. – Arthur estava parado segurando sua mão e tirando a outra do colarinho de quem chorava – Quebra uns espelhos também, talvez te acalme. Quando voltar, a gente vai atrás da Olivia.

Ele empurrou o próprio corpo do lugar, foi vociferando um monte de palavrões e maldições para todos nós no caminho a passos pesados e bateu a porta de um jeito que ecoou pelo salão. Só dava para ouvir os soluços de Cameron quando a baderna chegou ao fim. Charlotte abraçava o gêmeo enquanto o médico segurava seu ferimento tentando fazê-lo parar de sangrar um pouco. Foi quando Lea sentou do meu lado que eu percebi que não mexi um músculo durante toda a conversa.

– Você… tá bem? – ela me perguntou se ajeitando do meu lado – Aquilo foi bem intenso.

– Foi. – não consegui desenvolver uma resposta que explicasse o que aconteceu aqui dentro – Eu tô bem.

– Legal… – ela parecia menos empolgada do que eu – Agora precisamos achar a Olivia.

– É.

George voltou uns dez minutos depois. O plano final era procurar Olivia e uma enfermaria ou qualquer caixa de primeiros socorros para ajudar o Cameron e começaríamos passando de quarto em quarto. No caminho para os elevadores, achamos pertinente tomarmos um banho e trocarmos as roupas que estávamos usando e até escovar os dentes. Essa última foi um pedido meu, não estava aguentando meu próprio hálito.

“Nos conhecemos na faculdade, nosso casamento foi logo depois da formatura. Quando nos aposentamos, sem herdeiros, fomos embora para uma casa de campo que não demorou a virar um bairro cheio de casas e até comércio. Ela lidava com todos porque eu fui ficando cada dia mais ranzinza. Ainda mais depois de todo o temporal acinzentado. Chegou um dia que eu surtei e ela foi embora. Trinta anos de casamento e ela finalmente se encheu o saco da minha chatice. Eu não aguentei uma semana naquela casa sozinho, tudo me lembrava o quão idiota eu havia sido com ela. Eu fiz as malas e parti para o primeiro lugar que viesse à mente…”

– E você lembrou do hotel porque recebeu um cartão postal. – Arthur comentou trancando a porta de seu quarto, com novas roupas e o cabelo por secar, enquanto partíamos para vasculhar mais um corredor.

– Bem, sim… Mas eu não lembrava por que teria recebido tal cartão ou quem teria enviado, entende? – George indagava o que parecia ser seu grande mistério – E mais ainda, como eu poderia adivinhar que ela também estaria aqui? Ela chegou dias antes de mim. A vi caminhando pelas margens das pedras num dia desses e a chamei, foi quando voltamos a conversar. Ela abandonou o quarto que estava no segundo andar e subiu para o meu. Ali ficamos até encontrar o resto de vocês.

– Uma história e tanto. – comentei pensativo – Mas concordo com a indagação. Todos receberam os cartões postais, alguém reparou se estava ao menos assinado?

– O nosso estava num envelope. – Charlotte estava agarrada ao irmão e falava baixo – Veio com uma carta longa contando sobre todos os benefícios que receberíamos na estadia e que era um convite de um contratante.

– Contratante?

– É, eu sou fotógrafa e meu irmão é editor. Uma jornalista ou algo assim quem estava vindo para escrever artigos tanto sobre Londres quanto sobre a antiguidade desse hotel. Ele está aqui há mais de um século aparentemente.

– Dalyla… – Lea falou baixinho – a garota no hall. Só pode ser, não?

Chegamos no elevador do oitavo andar, depois de subir todos pelas escadas, mas nenhum sinal de criatura alguma ou de Olivia. Mesmo no quarto em que eles estavam ou no antigo quarto dela, não encontramos nenhuma pista. O que tínhamos para fazer a seguir era comer algo para não perder as energias e encontrar água. Arthur precisava de um espaço para tratar do braço de Cameron já que ele conseguiu aproveitar um kit antigo que tinha na mala. A porta do elevador se fechou, mas os botões não acendiam. E as luzes também se apagaram. “De novo não”, consegui ouvir uma voz baixinha e trêmula perto de mim antes que a caixa metálica despencasse.


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