Encontra sua Sombra com RPG e outras Histórias
O RPG está tendo um impacto em minha vida maior do que eu imagina e só descobri isso, agora! Sim, essa é uma história pessoal que eu quero compartilhar. Assim, talvez, você também possa começar a ter os mesmos insights e analisar seu jogo com uma lente diferente, a visão do autoconhecimento.
Contar histórias é uma das melhores formas de se conhecer. Cada parte de uma história, seja a trama, o cenário, os personagens ou o cenário, revelam fragmentos de nossa mente subconsciente. Dessa forma, revelando algo único sobre nós mesmos.
Há dois anos atrás, o mestre Vitão, brincou que a minha paixão por Cyberpunk revelava um lado oculto de rebeldia, inconformismo e exploração do poder. Rimos muito na hora, mas aquela ideia ficou em minha mente.
Eu já sabia e analisava os personagens que eu criava e como eles eram, de certa forma, parte de mim. Porém, quanto mais me aprofundava em cenários e histórias, comecei a fazer o exercício que relacionava a minha expressão — personagens, motivações, cenários, caos, tramas, etc — com pedaços ocultos do meu ser que eu não queria ver.
O lado Sombrio do Ser humano
Mas foi chegando recentemente em Vampiro: A Máscara que eu me deparei com a Besta! No RPG narrativo no Mundo das Trevas, os jogadores precisam lidar com a Besta interna, aquela faminta por sangue e que garante sua vitalidade e longevidade. Assim, de forma extremamente reduzida para este texto.
Eu peguei a Besta e fiz referência as Sombras de Jung, um trabalho da psicologia analítica que se refere ao estudo dos traços de personalidade, desejos, memórias e experiências reprimidas. Comecei a olhar para mim mesmo, buscando minhas sombras, elaborando a minha Besta.
Em um movimento dolorido e de compaixão, consegui descobrir alguns aspectos que eu tinha (ou tenho) até medo de olhar. O trabalho com as Sombras de Jung é sobre isso. Olhar para dentro de si, reconhecendo, explorando, aceitando e integrando um lado que não seria aceito como “bonzinho” ou até mesmo seria odiado pela sociedade. É um lado de ti que fala sobre desejos, comportamentos e pensamentos que você não compartilharia com ninguém, nem mesmo com seu reflexo no espelho.
Revelando meus pensamentos através de histórias
Porém, a cada história, cada backstory de um personagem e até mesmo na criação do meu mundo pós apocalíptico, revelava algo sobre mim. Questões começaram a surgir, como por exemplo:
- Por que gosto de um mundo escasso, desértico, cujas as pessoas sofrem com falta de água, comida e muitos grupos se tornam agressivos dentro dessa narrativa? Ao melhor estilo do jogo Rage.
- Por que meus personagens tendem a ser elegantes, graciosos e geralmente nobres? Mas todos vieram de um lado sombrio, obscuro e sofredor?
- Por que as minhas tramas falam muito de poder, de níveis sociais e de opressão política ou religiosa sobre as pessoas?
- Por que eu gosto de dar liberdade para os jogadores? Por que eu gosto que eles, além de mim, explorem meus cenários e mundos?
Essas são pequenas perguntas que vão trazendo respostas para a consciência e revelando alguns inconformismos, dores e até mesmo desejos. O ato de nos questionarmos “O que _____ fala sobre mim?” começa a revelar pequenas coisas da nossa essência.
Um pedaço de mim para você
Com base nas perguntas começo a descobrir que existe uma Besta interna que gosta de reconhecer o poder do Ser humano em ambientes desfavoráveis. Ambientes de pressão nos ajudam a extrair o nosso melhor e o nosso pior.
Outra ponta interessante é a agressividade interna e violência. Algo que segurei por muitos anos, me machucando internamente, e agora venho conseguindo explorar e usar essa energia para construir coisas novas. A Raiva, uma energia de base, nos ajuda a colocar coisas em ação. Dessa forma, ter a ciência dessa energia e saber expressá-la do jeito certo é fundamental. Por isso, anteriormente eu odiava Bárbaros, Brutamontes e personagens porradeiros. O próprio Orc Bárbaro que fiz uma vez, ficou sem graça, pois eu não entendia a Fúria como entendo hoje. Assim, ainda em princípio de estudo desta energia, eu consigo ter uma melhor interpretação desta classe e tenho vontade de jogar, apenas para explorar a mim mesmo durante o jogo.
A exploração e a liberdade são valores extremamente importantes, aliado ao meu arquétipo do Viajante, eu tenho curiosidade e paixão em ver meus jogadores criando o meu cenário comigo. Esse desenvolvimento me atrai e acende um desejo de descobrir mais sobre as coisas.
Conhecendo a si mesmo
É claro que aqui revelo apenas a cobertura de um bolo que ainda estou cortando, mastigando e digerindo. Ainda estou desenvolvendo essa consciência, mas resolvi trazer parte dela para você como forma de inspiração.
Hoje mesmo, 15 minutos antes de sentar aqui para escrever, passei em frente a Cacau Show, parei o carro e olhei para a porta. Neste momento, algo falou em meu ouvido. Não é você quem quer um doce, é a sua Besta interna que é esfomeada e gulosa. Você não está precisando deste alimento agora. Juro que respirei, liguei o carro e sai — antes que mudasse de ideia.
Parece besteira, mas para mim que quero emagrecer e sempre tenho coisas tentadoras a minha volta, escutar um lado de mim, que só veio a luz após entender que existe um fragmento de mim que comeria o mundo todo se possível, fez toda a diferença.
Por isso, te convido a escrever, criar personagens e histórias. Todas elas irão revelar algo sobre você. Enquanto escrevo, penso nos contos que já escrevi, nos personagens que já criei e agora vou para as minhas anotações pessoais para descobrir mais sobre mim.
Ahn! Seja curioso e busque saber sobre o Trabalho com a Sombra de Carl Gustav Jung. Deixe-se guiar por um conhecimento diferente e que pode trazer autenticidade, criatividade e crescimento pessoal para sua vida.