Contos

Fanfic de Nindäle: A Última Noite na Floresta

Cápitulo 2

Leia o primeiro capítulo.

Suas bochechas rosáceas e seu olhar amendoado não eram capazes de esconder seu corpo torneado por muito treinamento e as cicatrizes de combate. A última vez que eu a vi, ainda jovens, eu tinha certeza que nossos corpos haviam se fundido em um só. Cada cicatriz, cada músculo e cada gota de suor se misturavam com o sereno daquela noite iluminada por uma lua cheia e estrelas brilhantes. Parecendo até que éramos observados por celestiais ou até mesmo pela energia dos dragões.

Naquela tarde ela havia me convidado para caçar, pois precisava levar um javali, um alce ou alguma criatura com bastante sustância para o banquete e ela não iria carregar sozinha. Como sua independência e coragem me deixavam admirado. Porém, algo que eu não contava naquela caçada é que eu seria a caça dessa vez.

Cavalgando à frente em seu cavalo ela me conduzia com maestria por uma mata que eu ainda não conhecia. Nossa viagem flui através de grandes e densas árvores que permitem o chão sempre se manter úmido. Ela se mantém em silêncio por toda a viagem, mas ela é assim, só fala quando algo tem que ser dito. As subidas mostravam que nos afastávamos do vilarejo, deixando para trás a segurança do conhecido e rumando para o caminho das incertezas. Algo dentro de mim queria perguntar o destino, mas a minha inquietude mental falava mais alto do que as próprias palavras.

Ela desce do cavalo e pega suas bolsas, mas mantém o arco e a aljava preso no cavalo. Ela sorri com lábios finos e delicados junto com um convite para eu descer e deixar meus pertences. Ela leva uma esteira, uma bolsa e uma cesta de pães. Eu fico imaginando como nem percebi aquela cesta de pães.

Rompo o silêncio daquele final de tarde na parte mais alta da montanha e pergunto ingenuamente: “Onde estamos indo?” e ela, ainda em silêncio, me responde com um sorriso e um movimento de cabeça pedindo para eu me aproximar. Tão enigmática. 

Eu sempre a vi como mulher, mas nunca tinha percebido sua feminilidade. Meu tempo para observá-la era quando estava treinando entre os guerreiros de seu pai, que impunha que ela fosse a melhor de todos os guardiões do castelo e de seus segredos, mas eu sabia que em uma luta ela jamais usaria uma cota de malha, um gibão ou qualquer tipo de armadura que a impedisse de movimentar-se com tamanha leveza. A rainha, mesmo contra seu marido, a ensinava os bons costumes de uma mulher, o autocuidado e a comunicação amorosa com todos do castelo. Era incrível observar o contraste da mulher guerreira com a princesa adornada de ouro, rubi e tecidos que nem vendendo minha espada e meu cavalo, eu conseguiria presenteá-la com um echarpe.

Agora, caminhando lado a lado, eu posso sentir essa mulher do castelo deslizando ao meu lado enquanto o som de uma cachoeira surge ao fundo, se misturando com o barulho do vento atravessando suavemente as árvores.

Ela me dá a bolsa para carregar e com seu braço abraça o meu, juntando os corpos e sincronizando os passos. “É lindo aqui em cima, não é mesmo?” ela me pergunta com um olhar tão doce que meu coração salta e me desconcerta, fazendo-me tropeçar.

– Há uma queda da água, antes da cachoeira, acho que podemos ficar por lá. – ela continua.
– Escuto água. – digo totalmente sem saber o que dizer.

Ela abre um sorriso e dá uma risada inocente.

Caminhamos mais alguns metros e chegamos em uma pequena clareira com uma grama macia onde o pôr dos sóis se revelava logo após a queda da água. Parecia um quadro que poderia ser pintado pela artista do castelo e que valeria muitas moedas dracônicas. Porém a melhor imagem era a do rosto dela iluminado pelo azulado do último sol que se punha, enquanto sorria e da bolsa abria uma garrafa de azeite. Seu olhar brilhava ao me ver e eu não sabia o que fazer.

Pão, azeite, vinho, frutas e alguns tipos de queijos. Ela havia planejado esse momento. E isso me causava desconforto, pois eu não sabia o que viria pela frente.

Com tudo a postos sobre um tecido púrpura e rubi, cores da sua família, ela se senta e me convida para sentar ao seu lado.

– Lindo, não é mesmo? – Ela apontava com os olhos e com a ponta de seu nariz o fim do pôr do último sol.
– Encantador. – Respondo tornando meus olhos para o final de um céu azulado que começa a ser substituído por um manto de estrelas que cobrem nossas cabeças.

Paralisados por mais alguns minutos ela me aponta a garrafa de vinho: “Faça as honras do homem.” ela me diz. Eu pego a garrafa, abro a rolha com os dentes, tomo um gole e a ofereço. Nunca havia bebido vinho, somente o mosto e outras misturas da parte baixa do castelo. Algumas vezes, tenho certeza que o taverneiro misturava até carne e legumes nas bebidas para encorpar os guerreiros.

– O melhor do castelo para você! – ela disse. – Obrigada pode ter vindo. Eu precisava desse tempo com você. Mas não pense que não temos que levar um javali para o castelo. – Ela ria. – Somente vamos atrasar um pouco. Eu me viro com meu pai.
– É um momento agradável, mas por que estamos aqui? – pergunto tão inseguro quanto um potro em seu primeiro trote.
– É bem provável que essa seja a última vez que nos veremos. – ela diz com tom de tristeza, mas brilho nos olhos.
– Como assim? – Pergunto indignado. – Eu serei expulso do castelo?
– Não. – Ela responde com um sorriso que me desarma. – Com o fim da lua dourada irei para a Academia de Magia e Arte. Lá ficarei para desenvolver minhas habilidades.

Engulo seco com um coração que se aperta só de pensar em não vê-la mais. Ela percebe e se move um pouco mais perto de mim. Seu rosto próximo ao meu me faz sentir o cheiro do seu perfume que me lembra algumas flores alaranjadas que só se encontram nas árvores plantadas ao redor do castelo.

Olho para seus olhos e gentilmente toco seus cabelos que sempre estão ornamentados com fios de ouro, mesmo quando está em combate. Seus olhos cor de caramelo, sua orelha redonda, sua bochecha rosácea se misturam a um cheiro diferente que mexe comigo. Como se me implorasse para beijá-la, o cheiro entorpece meu corpo e uma vontade incontrolável de saltar sobre a princesa disputa uma guerra entre os valores e crenças em minha mente.

Como se lesse minha mente, ela fecha os olhos. Sorri.

O aroma da menina que brincava comigo pelos pastos e corredores do castelo agora era substituído por um aroma de mulher. Coração palpitando. Até que ela, com um leve sorriso, diz: “Não precisa pensar tanto, faça seu movimento. É a noite que eu quero com você!”

Nesse momento sinto que os sóis e as luas pausam seu movimento nos céus. O riacho diminui a velocidade e o vento não sopra mais entre as árvores. Meu olhar muda do menino inocente para um olhar fixo e penetrante. Ela sorri e sinto que ela sente o mesmo do que eu. O menino e a menina que sempre correram juntos acabaram de sair de nossos corpos dando espaço para um homem e uma mulher. Essa que envolve minha cabeça com suas mãos, seus dedos percorrem meu cabelo e lentamente deita sobre o tecido, me trazendo junto a ela.

Eu sinto nossos lábios tão próximos durante o movimento, que inspiro a expiração dela. Sinto que nossos corpos começam a trabalhar em uníssono. Quando toco seus lábios pela primeira vez sinto meu sangue percorrer meu corpo como se estivesse em batalha, mas com estímulos diferentes.

Entre movimentos diversos nossos corpos se despem como se nada tivessem. Nossas cicatrizes se entrelaçam. Sua tatuagem real entre seus seios revela-se brilhante, como se uma das jóias escarlate estivesse engastada nela. Um desenho vibrante que rouba a minha atenção por alguns segundos. O suor se mistura pela pele macia que cobre músculos torneados de tanto treinamento. Minha mão áspera de tanto trabalho e treino parecem não incomodá-la. Ela salta sobre mim. Me rendo no chão e a observo.

Observo cada curva, movimento e sons. Não quero me esquecer desse momento jamais.

O som da cachoeira anuvia minha mente enquanto ela encolhe seu corpo para caber em meus braços num abraço, deitados sob o colchão de estrelas e árvores que dançam com o alinhavar dos ventos. Ainda sem nossas vestes curtimos o sereno, o vinho, o pão e as frutas sob a luz das luas e das estrelas. Escolhemos não dormir esse dia.

Uma mistura de sentimentos embalava a noite. A vontade de parar o tempo para não perder nenhum detalhe e a lembrança de que ela não estaria mais perto travavam uma guerra sem fim em minha cabeça.

Apesar de nus a noite toda e curtindo a companhia um do outro, os sóis traziam o tom esverdeado da manhã. Ficamos mais algumas horas conversando e aproveitando o momento único em nossas vidas.

Fechando seu vestido pelas costas eu sinto o cheiro dela, do seu perfume, da grama e do orvalho. Ajusto da forma mais delicada que consigo para que seus cabelos com fios dourados não se enrosquem nas finas tiras de tecido.

– Eu vou te encontrar, sabia? – Ela me diz.
– Como você vai me achar? – Pergunto ainda na tarefa do vestido.
– Você será um grande guerreiro, um grande homem. Será fácil te achar! – Ela suspira.

Eu sabia que aquela seria uma promessa falsa. Que eu não seria o homem que teria permissão para casar com a princesa de um dos prósperos reinos de Hassine. Eu sabia que aquela seria a última vez que seria visto por aqueles olhos, que posso dizer, agora, apaixonantes.

Ela sorria com uma leveza e uma certeza que eu não sei de onde tirara. Será que isso já fazia parte de sua magia? Será que ela é vidente? Dúvidas pairavam sobre minha cabeça, mas registrava cada momento.

Já sobre nossos cavalos. Felizes. Ela ainda me lembra: “Ei, precisamos ainda caçar um javali.”

Com a caça na garupa do cavalo partimos para o castelo.

Ao desmontarmos do cavalo o Rei indignado esbraveja dezenas de palavras que meus ouvidos escolhem não escutar enquanto meus olhos gravam o último sorriso com uma leve piscada com o olho direito que ela me dá antes de ser agarrada pelos braços pelo seu pai e conduzida para dentro da carroça real.

Nesse momento decido: “Um grande guerreiro eu irei me tornar, para que em toda Nindäle meu nome possa se espalhar. Assim, ela me encontrará!”


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Esse é o segundo capítulo da minha FanFic em Nindäle com base nos Campeonatos que executamos no nosso Instagram, onde você vota para escolher os grandes vencedores. Hassine é um País do continente de Nindäle criado pelo mestre Vitão.

E você pode ler o livro O Último Arcanista – Volume I, para começar a entrar no universo extraído da mente do nosso professor de Worldbuilding.