Fanfic de Nindäle: Arena de Gravar
Nem as tempestades de areia podiam ocultar o aroma do frango, da cerveja com especiarias e dos doces caramelados que as crianças comiam ou atacavam entre si. Quanto mais perto das paredes, mais pareciam que elas tocavam os céus que replicavam um tom bege avermelhado seguindo os milhares de quilômetros de areia que preenchiam o país. O calor escaldante começava a ser substituído pelo frio da noite que logo se apresentará. E o som de gritos inundava a cidade de êxtase e viajantes para assistir a mais um dos espetáculos. A arena de Gravar nunca foi tão povoada, desde que os campeonatos se iniciaram.
De longe, parece que a arena é tão gigantesca quanto grandes cidades e algumas almas que se perdem no meio dos infinitos eventos dizem que seu diâmetro chega a ser maior do que a própria árvore de Gazan.
Um corpulento e esverdeado segurança pede meu ingresso com um bafo que parece ter comido restos de podridão. Enquanto ele analisa, uma grande labareda escapa da abertura superior da arena seguido por gritos dentro e fora das grossas e povoadas paredes. O draconato nem se abalou, devolvendo meu ingresso com um furo e me empurrando para uma nova fila, para entrar em uma porta tão grande, mas tão minúscula em relação ao tamanho da arena. Ah, será que estou perdendo uma disputa de dragões?
As portas revelavam um interior iluminado por tochas e velas. Logo no início dezenas de mercadores empurram alimentos, bebidas e, o que parece, miniaturas estáticas de criaturas que algum dia deixaram sua marca na arena. A mistura entre venda e esmola se expande a cada passo. É nítido que algumas pessoas entraram e jamais saíram de dentro dessas paredes. A sujeira se misturava com um aroma de suor e sangue. Não sei como o rei entrava em locais como esse escondido para assistir suas batalhas favoritas.
O barulho ensurdecedor da platéia se torna abafado dentro das paredes onde homens domando criaturas, mercadores e crianças gritam em meio à manufatura de armas, escudos e armaduras. Aquele pequenino com armadura prateada irá lutar na arena? Quem serão aqueles encapuzados que parecem monges, mas com ar tão sombrio? Do jeito que andam parecem até um culto sobrenatural.
Continuo o meu caminhar em direção à plateia, em busca do camarim que o rei me prometeu até que uma chuva molha os viajantes e residentes dentro das largas paredes. Um homem marrento esbraveja: “Só falta ser a luta de uma tartaruga dragão ou de um Kraken. Os magos irão levantar os mares e inundar mais uma vez nosso ganha pão.”
Meu coração bate mais rápido e a curiosidade ganha mais espaço em minha mente, acelerando meu coração. Fecho meus olhos, respiro e retomo o meu centro, assim como me foi ensinado para os combates.
Uma elfa de cabelos ruivos e com leves tecidos verdes, quase transparentes, que desenham as curvas de seu corpo se aproxima. Me encara da cabeça aos pés. Linda, mas com uma alma obscura por trás do perfume de gerânio. Suas colegas com roupas coloridas, mostrando decotes, cortes e culotes se aproximam como hienas cercando uma presa. A diversão que elas querem não é a que muitos homens e algumas mulheres desejam, pois é raro alguém sair de suas tendas. Aqueles que saem vagam perdidos por até 2 meses, pois morrerem de sede e fome, é como se suas almas saíssem de seus corpos e ficam vagando até seus corpos não aguentarem mais.
Seguro minha respiração, meus pertences e o desejo que se inflama ao olhar para elas e foco em dois humanos tão gordos que seus corpos já ultrapassam o tamanho de um barril. Eles bebem, brindam e apreciam um copo de alguma bebida vermelha que vejo escorrendo aos goles de suas bocas e encharcando suas roupas brancas. A imagem desses dois homens me lembram o último brinde com Ian Pir, meu amigo tabaxi que lambe até a última gota de um barril fazendo um barulho que me arrepia e que me faz cair na gargalhada.
Atravessando o grandioso pátio dentro das paredes da arena ainda encontro jaulas carregando criaturas, tendas de mercadores vendendo armas, alimentos e pergaminhos, carroceiros levando baús da nobreza, cavaleiros dos mais diversos locais do continente prontos para uma batalha e pequenas criaturas, menores do que gnomos, saqueando alguns viajantes.
Um brilho dourado se destaca da multidão, revelando uma escada pouco usada. Um humano loiro e de barba esbranquiçada, um draconato trançado e musculoso e um triteon que esconde seu rosto por trás de um lenço púrpura com tranças ficam frente aos primeiros degraus. Permanecem em silêncio. Concentrados e observando todos que se aproximam.
Estendo minha mão para o triteon que apenas olha nos meus olhos e move sua cabeça para a direita, como se dissesse para eu conversar com seu colega humano. O loiro, que futuramente conhecerei como Bashtar, cem cabeças, solicita meu ingresso.
– Sua primeira vez na arena? – Pergunta com um sorriso leve.
Aceno com a cabeça e devolvo metade de seu sorriso, pegando o ingresso mais uma vez perfurado de suas mãos. O grande draconato, que mais parece uma árvore com seus músculos gigantescos, abre espaço para eu passar. Cada degrau é feito de madeira com algum tipo de argila, coberto por um tecido púrpura e suas laterais douradas. Ao pousar o pé no primeiro degrau traz uma sensação de mudança de ambiente, migrando da marginalidade cotidiana do piso inferior da parede da arena para uma nobreza ainda sem requintes dos influentes do país. Cada degrau me distancia do aroma fétido e da umidade causada pela soma do suor de todos os residentes do local.
No topo da escada, um corredor se estende por grandes portas de madeira fechadas, guardadas, cada uma, por um pequeno goblin vestido como um servo da corte de Gravar. O rei desprezava esse tipo de tratamento com seus súditos e já chegou a sumir com o corpo de um mercador que exagerou no desrespeito a um de seus colaboradores. E é pelo respeito a ele e seus súditos que hoje estou aqui, podendo assistir a um par de lutas aqui na arena.
Um dos [goblins] me abordou e verificou o ingresso. Com um salto e meia dúzia de palavras que não compreendi, ele se vira em direção a uma das grandes portas de madeira com um número cravado em uma placa ouro sobre a maçaneta direita. Esse servo não tinha a aparência castigada comparado àqueles do castelo do rei. Aparentemente estava feliz por fazer o seu trabalho.
A porta era maciça, com quase 20cm de espessura, mas aquelas mãozinhas pequenas conseguiam manejar a porta que centauros e trolls passariam com facilidade, mesmo com as mãos levantadas. Do outro lado, um clarão iluminou a sala revelando o som de uma plateia muito agitada, seguido de uma labareda que nem esquentou a sala graças aos arcanistas que garantem a segurança dos espectadores. Uma sala entalhada com detalhes de árvores, animais, rios, cachoeiras e cavernas revela- se com simplicidade. Os detalhes contam a história de algumas memórias. Apenas 6 poltronas de veludo preenchem o centro da sala, além de uma mesa de apoio com 6 cobertores de feno e, ao lado, alguns barris de vinho. À frente um grande espaço aberto onde é possível ver uma gigantesca criatura nos ares soltando labaredas sobre uma outra criatura que resiste com facilidade às intensas chamas. Com uma aparência de montanha e que se move lentamente, a Tartaruga Dragão apenas observa os movimentos de seu sábio inimigo.
Na seguinte investida a criatura voa velozmente em direção à face do seu oponente marinho, revelando suas escamas avermelhadas, porém um sopro de vapor reduz sua velocidade e a norteia, seguindo de um golpe com a cauda, que faz o Dragão Vermelho estremecer a arquibancada do outro lado com o impacto de suas costas. O público se levanta e aquece sua garganta com gritos ensurdecedores.
A cada golpe que as criaturas diferiam entre si levantava a plateia e garantia mais certeza de adrenalina. Os sustos faziam parte do entretenimento com as criaturas tão imensas gladiando naquela arena.
– Elas que escolhem lutar na arena, você sabia? – Uma voz feminina revela uma anã de cabelos brancos como leite, olhos puxados e vestida com uma roupa vermelha e dourada só vista nos altos escalões da arena.
– Como você entrou aqui? – Respondi percebendo que a arena é um excelente lugar para a distração e que não havia visto a chegada dela.
– Eu esperava encontrar o Rei Scar em seu manto preto, mas encontrei um presente, por assim dizer? – Ela fitava meu corpo como se apreciasse uma refeição.
– Ele me convidou para conhecer a arena e assistir algumas lutas.
– Querido – ela falou com uma voz doce – você pode ter vindo aqui apenas para assistir, mas tome muito cuidado que as verdadeiras mortes acontecem fora da arena. – levantou-se e saiu
Os dragões ainda explodiam golpes ferozes no corpo um do outro, após cada acerto uma certeza de vitória ia se formando, mas era contestada na sequência de golpes seguintes. A plateia ia à loucura, enquanto um certo desconforto fazia eu segurar minha adaga e espada com as mãos, parecendo um lunático medroso. Nunca fui assim.
A memória da anã de cabelos brancos mostrou a fragilidade em ficar apenas conectado à luta. Muitas coisas devem acontecer aqui. Mustafa sempre comentava das negociações em locais como estes. Locais onde os acordos são abafados pelo som de criaturas em combate e plateia exaltada. Os acordos ficam nas sombras e é aqui que muitas decisões do país são tomadas.
Escutei o lento abrir da porta e me agachei por trás das poltronas empunhado de minha adaga. Adaga é uma arma perfeita para combate em espaço fechado. Lentamente uma espada ia se revelando com alguns entalhes na lâmina, como se elas fossem os braços que abriam a porta. Um aroma doce penetrou a sala e alcançou minhas narinas, fechei os olhos por um segundo. Tempo suficiente para que uma labareda intensa acendesse a sala e iluminasse o vestido branco de rendas com fios de ouro, a espada cravada com uma pedra escarlate, os cabelos morenos com tranças perfeitas e muito bem fixadas por fios de ouro com pequenas pedras brilhantes. Seu olhar inconfundível jamais se perderia da minha memória apesar dos anos que se passaram. Ela havia me encontrado e as batalhas na arena apenas começado.
Esse é o primeiro capítulo da minha FanFic em Nindäle com base nos Campeonatos que executamos no nosso Instagram, onde você vota para escolher os grandes vencedores. Gravar é uma cidade do País de Galim dentro do continente de Nindäle criado pelo mestre Vitão.
E você pode ler o livro O Último Arcanista – Volume I, para começar a entrar no universo extraído da mente do nosso professor de Worldbuilding.