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Kairo: O terror sob uma novo ângulo

Kairo também conhecido como Pulse, é um terror japonês que beira a ficção científica. Dirigido por Kiyoshi Kurosawa e lançado em 2001 trás uma indagação sobre o sobrenatural que pode muito bem enriquecer sua próxima mesa de terror.

Qual a diferença entre os humanos e os fantasmas? Indagação que a princípio boba, gerou essa que é uma das maiores obras dos anos 2000 e que para todo aquele que deseja ser cinéfilo ou ingressar a área é indispensável.

Somos diferentes dos fantasmas?

Somos diferentes dos fantasmas por estarmos vivos? Mas afinal o que é estar vivo? Conceitos estes que por si só já nos dão uma excelente base para a sinopse de uma boa campanha. Mas vamos nos aprofundar nesta obra e buscar mais pontos relevantes para uma futura mesa.

A ideia deste texto não é apontar pontos específicos para serem incorporados, mas sim trazer uma nova perspectiva sobre o que é terror e o que é sobrenatural. Para você, seja leitor, jogador ou mestre, possa criar aventuras de um novo ponto de vista, ou até mesmo aproveitar o cinema por uma nova óptica.

Os fantasmas de Kairo não são grotescos, deformados ou animalescos mas causam grande desconforto e agonia, como se uma regra estivesse sendo quebrada, aquela imagem deveria ser perfeita e assustadora, não deveria ser tremida e deformada.

Os fantasmas de Kairo tem pouca movimentação indo contra o que deveria ser o cinema, imagem e som em movimento, seus fantasmas amedrontam não pela imagem que querem passar e sim pela presença anomalistica e estática encrustada na tecnologia. Fotos, televisões, monitores, câmeras e celulares são apenas algumas das tecnologias possuídas.

Terror com tecnologia

Kairo aborda principalmente a evolução da tecnologia, o receio do que ela será capaz de fazer, as inseguranças que o futuro gera, ela irá nos substituir de alguma forma?

Kairo recebeu duas adaptações para o cinema americano que não vale a pena se aprofundar, por serem pouco ou nada inspiradas e focarem apenas na tecnologia. O original trás esse viés de preocupação e transição, não apenas da tecnologia, mas a chegada de uma nova geração humana, o destino da cidade dos personagens e também o futuro do próprio cinema por que não?

Conceitos que podemos pegar emprestados para trazer profundidade a nossas aventuras, por que não ambientar sua mesa numa transição de milênio como Kairo foi, trazer a evolução da humanidade de alguma forma, mudança essa que por si só geraria um lado contra e outro a favor.

Qual a próxima tecnologia que irá surgir? Como ela irá afetar a humanidade em sua mesa? Todos os humanos terão acesso? O que essa tecnologia faz e o melhor essa tecnologia, ela pode ser possuída?

Não dê segurança para seus jogadores

O início de Kairo é soturno, vemos Mattie tentando recuperar o disquete que seria necessário para continuar seu trabalho no apartamento de um colega de trabalho, que por sinal sumiu a vários dias. O homem estava em seu apartamento, um tanto pensativo e refletindo monólogos sem fim e enquanto ela procura, o homem se enforca em sua frente com cabos de computador.

O filme não nos dá tempo de nos acostumarmos com o ambiente, nem de nos sentirmos seguros e confortáveis, pegue essas ideias e implemente em sua mesa de RPG, não deixe seus jogadores sentirem que eles estão seguros, deixe uma bruma sobre suas ideias e um ar de que a qualquer momento algo pode e vai dar errado!

A partir desse ponto, Mattie e seus amigos passam a ser assombrados através das tecnologias sendo essas uma meio de contato do sobrenatural com o mundo humano, como fugir de uma criatura que possuí qualquer tecnologia? Estamos cercados pelas nossas criações onde quer que estejamos, seremos sempre assombrados pelo que criamos.

O que assombrava o colega de Mattie começa a se espelhar como um vírus, afetando diversos de seus amigos levando os mesmos a situações parecidas a de ansiedade e depressão, não se enganem pois nada neste filme é solto ao vento. Não é a toa que o medo mais primordial da humanidade, é o medo do desconhecido.

Lidamos aqui com uma criatura incerta, fantasmas desconhecidos, tecnologias desconhecidas, um futuro da qual não sabemos como será e seja o for esse vírus é tão contagioso que se espelha até mesmo pelo sinal de celular e pela imagem, uma corrente amaldiçoada.

Kairo questiona nosso comportamento

A indiferença que essa obra passa gera um desconforto gritante, seus personagens sequer se envolvem emocionante com algo, como se estivessem anestesiados e até seus momentos de morte são em silêncio. Não te lembra alguma coisa? Quem sabe o nosso mundo moderno, onde é cada um por si.

Até mesmo o desaparecimento de um colega de trabalho não foi suficiente para motivar alguém a agir, exceto quando a falta de um disquete, uma tecnologia fez falta para a conclusão de uma tarefa.

Violência, estresse, a pressão da dia a dia, a solidão mesmo cercado por pessoas, o concreto cinza fundido a tecnologia da “vida” a cidade, pele lente do filme a cidade é uma prisão claustrofóbica, até mesmo as cenas calmas sem elementos sobrenaturais já trazem um ar de pesadelo e submundo, como se o mundo real já fosse o mundo fastama.

O barulho da tecnologia, os ruídos da cidade compõem ou tentam compor a falta de humanidade e o vazio das cenas, ou seria o nosso vazio?

Não existe uma criatura específica, um espírito se vingando ou algo do tipo em Kairo, mas sim uma pressão lenta, um desconforto sutil de um futuro incerto. O que resulta não numa morte grotesca, mas sim na deliberada escolha de desaparecer, se fundir ao concreto cinza ou até mesmo morrer.

Um pequeno apocalipse individual, para cada personagem em sua mesa. Algo que irá consumir a mente de seus jogadores assim como Kairo faz ao jogar ideias em sua frente e nunca explicá-las, pois talvez seja melhor nem pensar no assunto. Quem sabe esse ato de não pensar, lhe mantenha vivo.

Kairo é nascimento de um medo. Medo esse que se assemelha ao medo fastamas, algo entre o real e o imaginário, da mesma forma que a tecnologia também é, não somos capazes de estabelecer um limite de até onde nossa tecnologia irá, ou estabelecer se existe ou não um pós morte.

Uma insegurança real, tanto quanto o drama humano de estar vivo ou não. Desejo que tenha absorvido algo, que esse texto possa de alguma forma lhe trazer inspirações seja para uma mesa ou não.

Caso tenha se interessado pelo filme, lhe convido para me seguir e me companhar no letterboxd onde posto minhas críticas, inclusive a próxima a sair e justamente de Kairo.