Contos

Lutando pela Vida – Cascata de Estrelas

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Capítulo 12

Lutando pela Vida


A lua brilhava trêmula contra as janelas maiores na nossa direção. Mesmo deitados em roda, Arthur estava o mais longe possível de mim. Não o culpo. Não sei nem se ele ouviu a conversa, mas a fúria dele me deixou com hematomas o suficiente para não conseguir falar direito. Tive que escrever por tudo o que passamos lá embaixo para George e os gêmeos que pouco acreditaram, mas um dos três encanou tanto que não conseguia dormir.

Charlotte rolava de um lado para o outro e, às vezes, me olhava de relance. Eu só conseguia ver a expressão vazia no rosto silenciado de Lea toda vez que fechava os olhos. Não conseguia dormir. Na terceira vez, estalei os dedos e ela deu um saltinho de susto. Num suspiro irritado, ela se arrastou na minha direção devagar procurando o olhar dos outros, em vão, todos estavam mergulhados num sono profundo.

– O que é que você quer? – ela sussurrou de ombro comigo.

– Você quem passou a noite me olhando, eu quem pergunto. – sussurrei de volta.

– Olha… – ela deu uma longa pausa antes de se virar em minha direção e me encarar firme – Eu vi e ouvi coisas das quais não sei bem se eu gostaria. Pode parecer loucura, mas eu acredito em você. E, mais, ainda acho que se a gente juntar tudo o que conseguiu, podemos reverter toda essa situação de alguma forma.

– Eu também achava isso. E olha o que aconteceu. – meu sussurro saiu um tanto ríspido, mas era a verdade- Eu sinto que só estou ferrando todo mundo.

– Por que tá tomando uma responsabilidade que não é sua? Você quem começou toda essa piada de mal gosto? – não consegui responder – A gente ainda pode reverter a situação, ok?

– … Ok. Por onde começamos?

– Pelo começo.

Achei que ia precisar de um quadro para desenhar tudo o que conversamos, mas minha mente conseguiu desenhar tudo de certa forma. Contando de quando chegaram, os funcionários eram abundantes. Eles andavam pelos corredores sumindo nas esquinas, “atravessando” paredes, apareciam quando você precisava e, num instante, desapareciam dali quando não precisava mais. Nenhum tinha nome. Ou, pelo menos, nunca nos deu um nome. Conforme fomos chegando no hotel, eles foram ficando cada vez mais escassos. Charlotte diz que fotografou vários deles, mas não conseguiu achar as fotos quando foi repassá-las para analisar seu conteúdo.

– Era como se tivessem sido deletadas… Mas eu nunca deleto conteúdo, eu mantenho tudo comigo, porque tudo pode ser evidência de alguma forma. Daí, me surgiu um pensamento: e se eles invadem nossos quartos de noite?

– Sinistro… Mas faz sentido. Se eles estavam nos estudando de alguma forma, o que explicaria a escolha da comida também, eles precisavam ter acesso às nossas coisas. Dentro do nosso quarto.

– Exatamente! Seria fácil se pensarmos que eu e Cam passávamos o dia todo do lado de fora, caminhando na beira das pedras, mas eu só largava da câmera quando ia dormir.

– Eles tinham acesso. E não era de forma convencional, como as chaves da porta, era algo além…

– Pensei o mesmo.

Encontramos olhares e nos encaramos em silêncio por alguns instantes, refletindo maneiras de se entrar e sair de um cômodo fechado sem ser pela porta. Foi nesse momento que conseguimos ouvir os passos que vinham na nossa direção. Coloquei o dedo em frente da boca e levantei a cabeça com esforço para não fazer barulho algum. Com os olhos acostumados com a meia luz, consegui ver a silhueta que carregara Olívia, que carregou eu, Arthur e Lea, e que se aproximava de nós mais uma vez. Cutuquei-a para que se virasse e ela encarou a criatura boquiaberta, mas atentamente como eu.

Em passos arrastados, ela chegou até o corpo sem vida de Lea, a pegou pelo tornozelo e começou a leva-la embora. Num movimento súbito, Charlotte segurou minha mão para que eu não me mexesse. Foi quando percebi que já estava quase sentado. Aquilo foi se afastando de nós, sumindo em plena vista por uma sombra. Ela se sentou também e me encarou com firmeza.

– Eu tive uma ideia idiota… – ela disse já se levantando – Vamos seguir aquela coisa.  

– De novo? Já disse que a seguimos lá embaixo e só nos levou…

– A um círculo ritualístico. Sim, eu sei, mas precisamos descobrir como isso funciona para saber o que está sendo feito no ritual ou sei lá. É o único jeito da gente descobrir com revertê-lo.

– Não sei se é uma boa ideia. – George estava sentado encarando o caminho que a criatura fizera – Mas não custa tentar.

– Está acordado, seu velho? – Charlotte perguntou estarrecida.

– Não consigo dormir direito desde a partida de Olívia… – ele suspirou ficando em pé e estendendo a mão para mim – Vamos, o garoto vai ficar melhor com o médico.

– Não, Cam não se separa de mim de jeito nenhum! – ela se abaixa para acordá-lo – Cam, vem, acorda…

– Ele está machucado, só vai ser um problema se começar a sangrar e chamar atenção choramingando.

– George, pega leve, é até melhor ficarmos juntos. – tentei falar, mas ainda com dificuldade, segurando seu ombro.

– O que? – o garoto esfregava os olhos nos procurando pela sala – Por que no meio da noite?

– Precisamos ir, Cam. Precisamos descobrir quem está por trás de toda essa merda!

Os burburinhos se fizeram por longos minutos enquanto discutiam se nos planejarmos seria melhor do que mergulhar de cabeça, tanto durou que Arthur acordou no meio para dar seu parecer sobre o assunto. Cameron enfiou na cabeça que os alienígenas não mexeriam com ele se permanecesse sub a luz, quieto, mas sua gêmea pensava o completo oposto. O médico não queria saber de seguir coisa alguma para dentro da escuridão de novo. Ainda mais me acompanhando. Repetiu algumas vezes para Charlotte e George que eles acabariam como Lea. O velho quase bateu nele duas vezes.            

Assistindo toda aquela lorota pensando no tempo que perdemos discutindo, eu dei as costas para o grupo e segui a coisa. Sozinho.


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