RPG e competências socioemocionais: SER
No calor de uma gruta, ou no pavilhão cheio de fuligem, que os melhores equipamentos e artefatos são forjados. Processo este que envolve, o desejo do ferreiro e o tilintar entre minério, martelo e bigorna. É necessário aquecer, resfriar, martelar… enfim, trabalhar a matéria-prima, e por fim, transforma-la em obra-prima.

O RPG de mesa, tem essa capacidade de moldar-nos e nos conduzir, até mesmo criando pilares que darão sustentação para o que construiremos no nosso futuro. Isso é o aprender a SER.
Lembra do ladino caladão, mas super inteligente, que foi meu primeiro personagem? Pois, bem! Ele era o que queria representar de mim naquele momento, e o Wau (nome dele), foi a forma de expressar um estado meu.
Wau, foi ganhando espaço na narrativa e sua inteligência, foi tomando a argumentação e o discurso; eu fui descobrindo que poderia ser mais. Personagens posteriores me levaram a uma garota que apreciava o amor e o carinho (Neon); um guerreiro que ostentava sua espada gigante, e o quanto era forte (Leo). Tiveram muitos outros.
Jogar RPG de mesa, nos faz aprender a SER de forma fantástica, em grupo, e às vezes, de tal maneira que nem notamos. Ser, relaciona-se com a nossa COMPETÊNCIA PESSOAL, o jeito que nos relacionamos consigo mesmo, como encaramos nossas qualidades, limitações e como conseguimos administrar isso.
Além disso, como nos relacionamos com o transcendental da vida (aquele clérigo fanático; o druida defensor de tudo que é natural; ou até mesmo o necromante, que acredita na mutabilidade da vida e não vida!), e todos os inúmeros dilemas que nossos personagens carregam.
Competências que o RPG desenvolve
Vou citar competências que o RPG de mesa, desenvolve em nós, e que são importantíssimas no mundo que vivemos e não apenas no fantástico.
Conhecer a si mesmo: é comum através de nossos personagens, falarmos de nós. Evidenciarmos nossas qualidades, até o ponto de “abafar” nossas limitações. É neste processo inicial que nos reconhecemos, pois, criando cada personagem, vez após outra, desenvolvendo seus backgrounds e interpretando-os, vemos o que somos, o que não queremos ser, e o que podemos ser.
Avaliar bem a si mesmo: em uma entrevista de emprego, nas dinâmicas da vida, quando somos questionados quais são nossas qualidades… puff! T-R-A-V-A-M-O-S., mas, quando jogamos RPG, já percebeu que sempre falamos e executamos o que somos bons? Onde mandamos bem?
Ser determinado: a não ser que seu personagem seja um covardão (e não há mal nisto, nem todo personagem precisa ser “o cara”), quando somos confrontados com desafios, queremos lidar e solucionar, não importam quais sejam. Victor Hugo, já dizia que as pessoas não carecem de força, mas de determinação. Aprendemos que podemos continuar, que podemos tentar mais uma vez, que nossa determinação pode sim, mudar a trajetória.
Confiar em si: mesmo em meio ao grupo, existem situações que nós e nossos personagens são confrontados, e a resolução está em nossas escolhas. Notamos o propósito de que, nossa atitude, nossa postura, nossa ação são tão importantes quanto. O RPG de mesa, nos amadurece quanto a necessidade de confiarmos em nossas capacidades e no que somos, para além do que fazemos.
E por fim, ajuda a Reconhecer as suas forças e limitações: sobre isto deixo um depoimento do meu desenvolvimento. De Wau até Greggoryuz Pingus D’Oro (nobre meio gênio em Tormenta 20, depois falo mais dele haha), foi uma ladeira bem íngreme que subi, mas descobrir através dos inúmeros personagens que me propus a jogar e encarnar, que poderia falar mais e mudar a vida de outros através da minha voz e fala. Entender que, a minha falta de foco e apego, que me limitaram diversas vezes, e me fizeram abandonar vários planos, além de limitações eram oportunidades de melhoria. Que minha dificuldade em aceitar ajuda e depender dos amigos, cairia por terra, já que RPG de mesa, não é apenas eu, mas o todo que me muda e que me permite mudar.
Faz sentido pra você? Consegue se identificar com este processo de desenvolvimento trazido pelo RPG? Espero que sim. Lendo estas cinco competências, quais dela o RPG de mesa já te desenvolveu? Qual personagem te marcou para além do jogo, e o que ele te mudou?
Compartilha com outros! Logo, daremos continuidade a esta discussão. E desde já, te convido a participar desse processo, por que a melhor maneira é jogando!