Sugadores de Alma – Cascata de Estrelas
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Capítulo 07
Sugadores de Alma
Talvez não fosse a melhor das ideias, mas acabamos montando acampamento no hall principal. Antes que você pense que fomos fazer companhia para a falecida, deixa eu contar: passamos horas até nos encontrarmos por aqueles corredores imensos e irregulares, nos perdemos algumas vezes, passamos nos quartos de todos para carregar algumas coisas essenciais e os colchões depois da decisão do acampamento e, quando voltamos para o hall, o corpo não estava mais lá. Sabíamos que não foi delírio porque o carpete ainda tinha uma mancha enorme além do pedestal estar colocado no mesmo lugar com sangue seco, mas era isso.
Fizemos uma pequena roda no chão onde ficou a luminária que pegamos. Foi como dormir ao redor de uma fogueira fria. Charlotte e Cameron eram os dois mais agitados, sempre conversando e teorizando o que podia estar acontecendo. O garoto tinha certeza de que estávamos frente a uma força alienígena ou coisa do tipo. O casal de velhos se sentava junto sem falar ou esboçar nada. Olivia estava completamente calada com um olhar horrorizado. Lea sentou entre mim e o Arthur. Mesmo tentando contato, ele não falou mais nada com ninguém, se isolou completamente de todos com aquele olhar suspeito de tudo.
– Você acha que a gente vai acabar igual a Dalyla? – Lea me perguntou abraçada nos joelhos encarando a luz no centro de nós – Ou é do time que acha que é alguma pegadinha?
– Não sei. – respondi com sinceridade me apoiando nas mãos atrás do corpo – Mas não acho que seja pegadinha. Não estamos passando pelos melhores momentos para achar que seja uma, todas aquelas pessoas sendo internadas em Londres…
– …E a gente já não tá tão longe de pirar igual elas. – ela suspirou desapontada – Eu não quero morrer, Thomas.
– Ninguém quer, Lea. Ninguém quer.
Eu acabei apagando um tempo depois sem nem reparar que fechei os olhos. O vento soprava pelos vãos dos vidros das janelas mais altas, algumas portas batiam e rangiam ao longe da gente. Os sonhos foram jorrando na minha mente, um misto de memórias e coisas que talvez estivessem por vir, tudo muito nítido de novo. E, num momento, me assisti ali deitado esparramado num colchão no chão em meio a algumas pessoas e fui me aproximando de mim até abrir os olhos.
Meu peito ficou pesado por um instante. Eu não conseguia me mexer. Meus olhos só conseguiram focar na coisa que estava parada em cima de mim, me encarando com um rosto vazio e uma respiração dementadora. Eu tentei chamar alguém, tentei sair dali, me mexer, mas nem fechando os olhos, a imagem daquela criatura me abandonava. Minha voz não saía. Eu suava frio, sentia o corpo tremendo, ansiando por fugir daquele momento em vão. Foi num estalo de esperança que a luz se acendeu ao meu lado e eu consegui respirar de novo.
– Quem foi que apagou a luz? – a voz de George soou, do lado contrário de onde eu estava travado, de forma rouca seguida de uma pausa e um berro – QUE PORRA É ESSA?
No segundo seguinte, uma cadeira passou por cima de mim acertando a aberração que me encarava ainda mais feia na luz. Num baque, aquilo solto um grito esganiçado e se afastou de nós rastejando numa velocidade assustadora. George me estendeu a mão e me ajudou a levantar enquanto todos acordavam e encaravam a situação estarrecidos. Fui até o toalete carregado pelo senhor que demonstrava certa preocupação comigo pela primeira vez.
– Lave o rosto. – ele disse com a voz trêmula, meio ofegante – Leve o tempo que precisar. Eu vou sentar aqui por um instante.
Assenti com a cabeça, mas algo se fechou no meu estômago quando ouvi o barulho da água corrente pela torneira e não tive outra escolha. Me debrucei no vaso sanitário e por ali fiquei por uns bons minutos que pareciam até horas. Minha cabeça girava de uma forma desconfortável. Eu acho que já não tinha nada para colocar para fora, mas o enjoo não passava. George resmungava do lado de fora da cabine como se desabafasse comigo sobre alguma coisa, mas nada entrava na minha mente.
Eu via luz entrando na cabine pelo lado de fora depois de piscar algumas vezes. A sensação ruim já tinha passado, mas me batia um vazio estranho. Senti os braços ao redor de mim me ajudando a sair e ver lá fora. O dia já amanhecera. Quando sentei no colchão, percebi que Arthur e George que me carregaram para fora. Quando minha visão voltou para o foco, olhei em volta e percebi que não éramos mais sete pessoas presentes.
– Eu passei a noite inteira lá dentro?
– Você dormiu debruçado lá. – Arthur falava num tom condescendente – Mas as coisas não melhoraram aqui fora.
– Como assim? – eu mexia em minhas coisas procurando minha chave sem olhar para ele enquanto falava.
– Aquela… coisa. Ela não foi embora de uma vez depois da cadeirada. – sentia sua voz se forçando para não tremular – Ela voltou…
– E…? – levantei meu olhar e percebi que ele encarava George que sentava sozinho no colchão com uma expressão confusa. Não precisei que ele terminasse. A única pessoa que faltava no ambiente arrebentado por algo afiado e meio sujo de sangue era Olivia. Os outros três estavam enrolados juntos numa coberta, Charlotte choramingava enquanto Lea a consolava e Cameron não reagia
– Corremos para ajudar o garoto quando a criatura quase arrancou seu braço, mas Olivia correu na direção oposta. Sumiu pela escuridão fugindo, gritando, chamando a atenção do que quer que aquilo fosse. Depois veio o silêncio.
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