Suspeitos Inocentados – Cascata de Estrelas
Se essa é sua primeira vez leia desde o capítulo 01, clicando aqui.
Capítulo 06
Suspeitos Inocentados
– E você assinou isso? – Lea me perguntou debruçada na cadeira ao meu lado boquiaberta.
– Aparentemente… – mostrei a ela o papel com minha assinatura bastante visível no final da página – E não só eu. Aqui tem… George, Olivia, Arthur, você, Charlotte, Cameron, … Dalyla…
– …A garota morta… – ela estremeceu e sentou ao meu lado folheando os contratos comigo – São tantos… Annabeth, Vincent, Casper, Maite, Yuri, Fal, Carol, Tess… mas onde estão todas essas pessoas?
– Lea… Olha as datas. – o verdadeiro terror era ler o dia em que os contratos foram assinados.
– Não é possível. Eu nem sabia que existia um hotel desses há dois meses atrás. Eu nunca teria assinado uma bizarrice dessas, por Deus! – ela jogou os papéis no chão e saiu andando estarrecida.
Eu não consegui impedi-la. Meus pensamentos rodavam a mil. Conscientemente, eu sabia que nunca teria assinado algo assim sem saber as reais consequências disso, mas algo dentro de mim me sussurrava que eu, de alguma forma, só esqueci. Como haveria de esquecer uma interação que me fizesse assinar um documento que envolve “aceitar me submeter a qualquer tipo de risco, inclusive, de vida”? Alguns contratos datam de mais de seis meses atrás… Segurei aqueles que estavam presentes conosco, os outros eu teria que ler com calma depois, mas levei-os até o resto. Todos me receberam com olhares hesitantes, mas aceitaram seus contratos e leram em silêncio.
– Isso só pode ser piada. – foi Charlotte quem quebrou o silêncio.
– Alguém deve ter nos seguido, hipnotizado a gente… Devem ter câmeras! – Cameron olhava em volta, nos cantos, esperançoso que alguém fosse pular de trás de uma parede falando “vocês deviam ter visto a cara de vocês!”, mas o ambiente continuava mórbido – Não é possível, né? Que a gente tenha realmente assinado uma merda dessas…
– Devem ter copiado nossas assinaturas e colocado ali para nos assustar. – Lea batia o pé no chão apressada – Qual outro motivo isso estaria ali tão óbvio?
– As coisas não são expostas à toa, mas não são escondidas sem motivo também. – respondi com seriedade – Posso não saber a razão, mas quem fez isso não tinha o porquê esconder esses papéis. Arthur, conseguiu algo?
– … Pelo pouco que eu consegui ver, ela morreu há poucos minutos. – ele suspirou e levantou tirando as luvas – Sangrou até morrer.
O silêncio era ensurdecedor. Um arrepio percorria minha espinha. Fechei os olhos por uns segundos para encaixar as peças no lugar, mas eram variáveis demais para colocar em ordem… Um quadro. Talvez, se eu organizar como um quadro de evidências em meu quarto, posso visualizar melhor o que está acontecendo…
– Thomas? – a voz da Lea me puxou de volta e a encarei – Por que estava sorrindo?
– Hm? Eu? – pisquei desconfortável – Estava perdido em pensamentos… Acho que vou voltar…
– Voltar? – Charlotte exasperou – Para os quartos? Com um corpo no meio do hall? Você é doido? Não podemos nos separar agora! E se mais alguém…
– Está começando a parecer suspeito, Kronner. – Arthur cruzou os braços em minha direção.
– Suspeito para quem eu nunca dei meu sobrenome, Fisn’er. – não estava além de dois centímetros de distância de nariz com ele. Eu suava, ele engolia em seco.
– Ok, ok. Chega disso. – Lea deu o basta – Qual o plano, Thomas?
– … Só estava pensando em pegar meu quadro para montarmos todas as evidências que temos. – me virei para ela – Se quisermos descobrir o que está acontecendo aqui, temos que trabalhar no que já sabemos.
– E criar teorias em cima disso. – Cameron falou como se desse o veredito final – Eu concordo!
Antes que pudéssemos discutir ainda mais a frente, ouvimos vozes de alerta correndo em nossa direção. Os velhos vinham apressados, arrumados em roupas mais chiques, chapéus, bengala e sombrinha em mãos. Olivia carregava uma bolsa do tamanho de uma necessaire. Eles pararam perto de nós ofegantes, mas desesperados. Demorou para que se recompusessem e se colocassem a falar.
– As portas… – Olivia disse quase chorosa – Todas elas…
– Estamos trancados. – George se endireitou e bateu o paletó para desamassá-lo – Não conseguimos sair nem pela varanda.
– Não pode ser, saímos de manhã para caminhar do lado de fora, perto da praia!
– Sim, mas agora… Agora, não tem mais por onde sair.
– Senhor George, não brinque com isso, lhe peço…
– Lea, não é piada. – ele engrossou a voz e a agarrou pelos ombros – Estamos presos aqui.
Ninguém conseguia acreditar. E foi assim que, em tour, todos nós começamos a investigar todas as portas do térreo, varandas, janelões, só para descobrir que estavam todos muito bem trancados. Não havia uma chave a vista, uma fresta, nada debaixo dos tapetes, o carpete era muito bem colado à soleira de madeira. As mesas da recepcionista não tinham mais pistas além das que encontramos. Muito andamos pelos salões e algo mais estranho ainda me chamou a atenção: nunca passamos por portas que levassem à cozinha ou ao local onde ficavam os funcionários. O garçom me assombrava mais uma vez… De onde ele vinha?
Paramos no bar, eu e Arthur pulamos para trás do balcão, mas não encontramos nada além de copos, taças, panos e produtos de limpeza. A estante só detinha uma quantidade exorbitante de garrafas, todas de bebidas diferentes. Nenhuma porta além da qual entramos e saímos dali. Cada passo que dávamos, mais perguntas, mais dúvidas surgiam sobre o lugar, sobre o real motivo que fomos convidados… sobre nós mesmos. Mas era unânime a ideia de permanecermos juntos. Para alguns, para evitar a morte ao se separar. Para outros, para manter os olhos colados em quem quer que parecesse mais suspeito. E eu já tinha um forte palpite de quem estava se fingindo de boa pessoa entre nós.
Leia todos os textos desta novela digital | Capítulo Anterior | Próximo Capítulo