Para iniciantes RPG Sistemas

Tiny Dungeon e os RPGs minimalistas

Sexta-feira passada, a editora Retropunk abriu a pré-venda da edição brasileira de Tiny Dungeon 2ª edição, um RPG minimalista de enorme sucesso lá fora. Porém você sabe o que é um RPG minimalista? Se não, vou explicar um pouco desse mundo que é, paradoxalmente, grande! Depois falarei um pouco mais dessa belezura que está sendo lançada.

Necessário, somente o necessário…

Mogli: o Menino Lobo, Clássico da Disney! Se não entendeu a referência, é porque não assistiu o filme! “Necessário, somente o necessário…”

Sistemas minimalistas de RPG são uma categoria reservada para sistemas com regras somente para aquilo que, dentro da sua proposta de jogo, é fundamental. RPGs desse gênero se baseiam normalmente em mecânicas simples para indicar se ações são feitas com sucesso ou não e mais uma ou duas mecânicas de customização dos personagens.

Também é comum vermos elementos descritivos básicos para dar um aspecto interpretativo maior aos personagens. Se já não misturados com as mecânicas de customização, à parte delas, somente como a título de descrições físicas e mentais. Afinal, com tão poucas regras para resolver situações de jogo, a interpretação e a narrativa, tanto do mestre quanto dos jogadores, ganham um destaque considerável.

Um RPG minimalista de faroeste, por exemplo, pode ter personagens sem atributo algum, a rolagem de um dado para dizer se foi possível acertar um tiro, blefar na mesa de pôquer, controlar seu cavalo numa corrida e algumas formas de deixar seu personagem bandoleiro diferente de um personagem médico.

Já um cyberpunk, poderia ter personagens definidos a partir de atributos como “físico”, “inteligência” e “aparência” que seriam testados para fazer quaisquer ações. Para customizar os personagens, uma lista de habilidades que modificam esses atributos, tais como “braço mecânico”, “hacker” e “membro de corporação”.

Esses são sistemas tão simples que é possível encontrar publicações em “panfleto”, uma página A4 contendo todas as regras dobrável em formato de um livrinho. O intuito disso é divulgar o hobby do RPG, torna-lo acessível, e explorar seu lado mais interpretativo. E funciona! Não a toa sistemas minimalistas são uma excelente porta de entrada para iniciantes.

…O extraordinário é demais

Clássico do RPG minimalista brasileiro, Malditos Goblins!, da editora Coisinha Verde. Arte icônica de Bruno Henrique Junges.

Achou que não dá para jogar assim? Está acostumado demais a ler um livro de 200 páginas e passar horas criando um personagem e acha impossível jogar sem isso? Então ouça qualquer episódio do podcast RPGuaxa. É um dos melhores podcasts de RPG que acompanho e cada episódio consiste em uma aventura baseada em um sistema com UM ÚNICO atributo para TUDO e cujas ações são todas resolvidas rolando 2d6 com esse atributo.

Pois é! Guaxinins & Gambiarras é um sistema explicado em apenas 30 SEGUNDOS no início de cada episódio (exceto os primeiros) de RPGuaxa! E com ele são feitas desde aventuras de alta fantasia medieval até terror. Te desafio a ouvir um episódio e não ficar impressionado com o quão profundo pode ser um jogo com regras tão absurdamente simples.

Outro sistema de RPG minimalista que pode ser considerado um clássico da comunidade brasileira é Malditos Goblins!, publicado pela editora Coisinha Verde. Com 10 páginas, ilustradas e em formato A3, você cria diversos goblins com atributos definidos a partir de uma cor, uma característica peculiar própria e uma ocupação dentro do bando. Feito isso, prepare-se para se divertir explodindo seus goblins ao sair por aí pilhando vilas ou protegendo sua caverna de bravos heróis!

Por isso é que essa vida eu vivo em paz

Acredito que já tenha ter percebido que esse tipo de sistema é voltado para quem está interessado em simplesmente se divertir jogando RPG com um grupo qualquer de amigos sem precisar se encontrar várias vezes para jogar uma longa história. Exato, RPGs minimalistas servem exatamente para isso, mas também para fazer experiências malucas.

O mais legal dos sistemas minimalistas de RPG é que eles criam diversas propostas de jogo, justamente por sua simplicidade. Uma mais diferente que a outra, das mais básicas às mais absurdas. Procure no Dungeonist pela tag “minimalista” que você terá 161 resultados que vão desde futebol até bananas!

Se não quiser algo tão despretensioso assim, mas ainda assim manter a simplicidade e diversão, bem, é aí que entra Tiny Dungeon, provavelmente o mais famoso RPG minimalista no mundo.

Linda arte da capa de Tiny Dungeon 2ª edição. Feita por Michael Leavenworth.

Tiny Dungeon

Tiny Dungeon se utiliza do sistema TinyD6. Nele os personagens não têm atributo algum, rolam 2d6 para ver se qualquer ação é bem sucedida e um resultado 5 ou 6 em qualquer um dos dados significa sucesso. Quando em uma situação vantajosa, como ter outro personagem lhe ajudando ou o equipamento ideal para fazer aquela ação, são rolados 3d6. Se a situação é desvantajosa, 1d6.

Ele adapta esse sistema para um cenário de fantasia medieval permitindo criar personagens com heranças (termo, por opção dos próprios autores, corretamente utilizado em substituição a “raça”) clássicas, como anões e elfos, e outras totalmente novas. Somado a isso, temos uma lista de traços, que são habilidades específicas bem inventivas que cada personagem pode ter. Detalhes do sistema você encontra na resenha da própria editora aqui.

A fantasia em Tiny Dungeon é simples e divertida. Se seu personagem tem 2m de altura ou 90cm é mecanicamente irrelevante. Porém, ao narrar que esses personagens estão entrando em uma caverna baixa, não se esqueça de dizer que o Karhu (herança de ursos inteligentes) altão está batendo a cabeça no teto! Claro, que o anão está rindo dele por isso. E não, o Karhu não toma dano por isso, o que é ótimo!

Se ainda duvida do potencial desse sistema, saiba que sua segunda edição foi lançada em uma campanha de financiamento coletivo no Kickstarter (um Catarse ou Apoia.se estadunidense) em 2017 e arrecadou mais de 62 mil dólares!

Edição brasileira

A Retropunk está trazendo para o Brasil a segunda edição integral de Tiny Dungeon. Porém, para deixar o sistema mais acessível, como é a proposta original de todo RPG minimalista, ela optou por deixar dentro do livro apenas cinco dos dezoito micro cenários que da edição original. Os micro cenários restantes serão lançados à parte em PDF. Isso garantiu que o PDF do livro custe apenas R$12,00 e o físico R$39,90, já inclusa sua versão digital e o PDF de micro cenários. O preço está ótimo, ainda mais quando comparamos sistemas de RPG com preço de no mínimo de R$150,00 somente o livro base.

Poxa, mas se ele é um sistema minimalista, precisava mesmo de um livro? Bem, copiei e colei o texto das regras básicas e da customização de personagens do PDF da edição em inglês em um editor de textos. Não chegou a 12 páginas. A maior parte do livro consiste em criaturas (todas ilustradas) e nos micro cenários de aventura! Também há um pequeno conjunto de regras opcionais que dão uma ligeira maior complexidade ao jogo, como evolução de personagem, acertos críticos e montarias.

Tiny Dungeon é um livro com um cenário de RPG completo, regras definitivas, ganchos de aventura e geradores de desafios. Nas mãos mestres e jogadores inventivos, ele é mais do que isso: é uma fonte de ideias para novas criaturas, heranças e aventuras, ampliando ainda mais esse universo.